domingo, setembro 18, 2022

PECADOS DE GUERRA (Casualties of War)



Seguindo com meus textos e minhas revisões dos filmes de Brian De Palma, chego a PECADOS DE GUERRA (1989), que foi um filme que, não sei por que motivo, não vi nos cinemas. De todo modo, a minha lembrança (remota) é de vê-lo em VHS e o que ficou presente foi a intensidade provocada pela trilha sonora de Ennio Morricone marcando os momentos de dor do personagem de Michael J. Fox frente à crueldade absurda sofrida pela jovem vietnamita raptada, estuprada e violentada pelo sargento vivido por Sean Penn e seus soldados.

Nesta revisão, muito do que não lembrava me pareceu melhor, caso do terceiro ato, com a busca por justiça do personagem de Fox, dando ao filme um quê de GLÓRIA FEITA DE SANGUE (a obra-prima de Stanley Kubrick). A guerra do Vietnã estava em alta na época do lançamento de PECADOS DE GUERRA, com Oliver Stone trazendo seu NASCIDO EM 4 DE JULHO no mesmo ano, além de outros títulos de destaque em anos anteriores. Mas PECADOS DE GUERRA não era como um PLATOON, por exemplo, que dividia de maneira muito clara a guerra entre mocinho e bandidos, como num faroeste, e tem um final triunfante, ao contrário de um final de total fracasso, como é o caso do drama de Brian De Palma. E talvez por isso ele tenha sido mais um fracasso de bilheteria para seu currículo.

PECADOS DE GUERRA é baseado em uma situação real ocorrida em 1966 e que foi tornada pública em um artigo de 1969 da revista New Yorker. No ocorrido, soldados americanos sequestram de um vilarejo uma jovem vietnamita, que é levada para satisfazer os desejos animais dos homens. A ideia é do sargento e apenas um dos homens se opõe o suficiente para reportar o crime a seus superiores. De Palma apresenta os homens de maneira bem distinta: Sean Penn como o líder que perdeu a fé na guerra depois da morte do amigo sargento e agora está a fim de adotar um estilo malvado de ser; John C. Reilly como o mais burro do grupo; John Leguizamo como o sujeito que não quer participar do estupro coletivo, mas que acaba fazendo por medo de seu superior; e Don Harvey, que talvez seja o personagem mais apagado e mais genérico.

Michael J. Fox é o mais próximo de um herói, mas não por seus atos heroicos, mas por ter a sensibilidade e a empatia que os outros não têm. O personagem de Fox dá um passo à frente na pureza de espírito, em relação ao Eliot Ness de OS INTOCÁVEIS (1987), que de certa forma se corrompeu no processo. O personagem de Fox, por causa de sua hesitação, falha miseravelmente em salvar a jovem vítima. Ele se junta a outros heróis depalmianos, como o Jack não tentando salvar Sally em UM TIRO NA NOITE (1981) ou Jake não chegando a tempo para salvar Gloria em DUBLÊ DE CORPO (1984). Os três foram muito lentos em suas ações.

Uma das curiosidades dos bastidores é que Sean Penn procurou ignorar ou dar um tratamento de humilhação a seu colega Michael J. Fox para gerar uma química que funcionasse a favor do filme, que lida com uma carga de tensão forte entre os dois personagens. Além do mais, a persona pouco amigável de Penn nos bastidores foi aproveitada por De Palma. Há uma cena em que ele dá um tapa em Leguizamo e o tapa é de verdade e foi filmado em vários takes. Mais ou menos como aconteceu com Betty Buckley estapeando forte Nancy Allen em CARRIE, A ESTRANHA (1976), com o cineasta dizendo: “bata mais forte!”.

Um dos destaques de PECADOS DE GUERRA está no fato de ser o primeiro filme a dar ênfase ao sofrimento do povo vietnamita. Depois Oliver Stone faria o seu ENTRE O CÉU E A TERRA, mas seria apenas em 1993. E esse destaque chamou a atenção dos críticos que elogiaram o filme. Uma pena que seja uma obra que não alcance muito sucesso em vários aspectos, como não conseguir um efeito de suspense na cena de Fox preso num buraco. A cena teria sido feita pensando nos efeitos de TUBARÃO, de Spielberg, mas sem a mesma eficiência. As cenas de guerra também não são tão fortes, mas é fácil entender que o foco no filme é menos a guerra e mais os efeitos psicológicos dela em seus personagens. E sendo assim, PECADOS DE GUERRA tem seu charme.

+ UM ANÚNCIO IMPORTANTE

32º CINE CEARÁ – FESTIVAL IBERO-AMERICANO DE CINEMA

Entre os dias 7 e 13 de outubro, acontecerá em formato 100% presencial a trigésima-segunda edição do mais tradicional festival cearense de cinema. As exibições serão no Cineteatro São Luiz e no Cinema do Dragão, equipamentos da Secretaria da Cultura do Ceará (Secult/CE) geridos pelo Instituto Dragão do MAR (IDM).

A lista dos filmes escolhidos já está presente no site oficial, mas deixarei aqui também:

OS LONGAS DA COMPETITIVA IBERO-AMERICANA

A FILHA DO PALHAÇO. Direção: Pedro Diógenes. Ficção. 104’. Brasil. 2022. 12 anos.
GREEN GRASS. Direção: Ignacio Ruiz. Ficção. 100’. Chile-Japão. 2022. 16 anos.
LA PIEDAD / A PIEDADE. Direção: Eduardo Casanovas. Ficção. 80’. Espanha-Argentina. 2022. 16 anos.
LAS CERCANAS/ INSEPARÁVEIS. Direção: María Álvarez. Documentário. 81’. Argentina. 2021. Livre.
LO INVISIBLE / O INVISÍVEL. Direção: Javier Andrade. Ficção. 85’. Equador-França. 2021. 18 anos.
NIÑOS DE LAS BRISAS/ MENINOS DE LAS BRISAS. Direção: Marianela Maldonado. Documentário. 100’. Venezuela-Reino Unido-França. 2021. 12 anos.
O ACIDENTE. Direção: Bruno Carboni. Ficção. 95’. Brasil. 2021. 14 anos.
VICENTA B. Direção: Carlos Lechuga. Ficção. 77’. Cuba-França-EUA-Colômbia-Noruega. 2021. 12 anos.

OS CURTAS DA COMPETITIVA BRASILEIRA

ALEXANDRINA – UM RELÂMPAGO. Direção: Keila Sankofa. Documentário. 11’. Amazonas. 2022. Livre.
BIG BANG. Direção: Carlos Segundo. Drama. 13’. Minas Gerais. 2022. 12 anos.
CAMANCO. Direção: Breno Alvarenga. Documentário. 14’. Minas Gerais. 2022. Livre.
CELESTE (SOBRE NÓS). Direção: Natália Araújo. Ficção. 19’. Pernambuco. 2022. 12 anos.
CEMITÉRIO DE FLORES. Direção: Rafael Toledo. Suspense/terror. 19’. Minas Gerais. 2022. 16 anos.
CONTRAGOLPE. Direção: Victor Uchôa. Documentário. 16’. Bahia. 2022. Livre.
ELUSÃO. Direção: Taís Augusto. Ficção. 22’. Ceará. 2022. Livre.
FILHOS DA NOITE. Direção: Henrique Arruda. Documentário. 15’. Pernambuco. 2022. 12 anos. 
INFANTARIA. Direção: Laís Santos Araújo. Ficção. 24’. Alagoas. 2022. 12 anos.
O ÚLTIMO DOMINGO. Direção: Joana Claude e Renan Barbosa Brandão. Ficção. 17’. Rio de Janeiro. 2022. Livre.

OS LONGAS DA MOSTRA OLHAR DO CEARÁ

A COLÔNIA. Direção: Virgínia Pinho e Mozart Freire. Documentário. 73’. Ceará. 2022. 12 anos.
AFEMINADAS. Direção: Wesley Gondim. Documentário. 95’. Ceará. 2022. 10 anos.
ESCURIDÃO NA TERRA DA LUZ. Direção: Popy Ribeiro. Documentário. 96’. Ceará. 2022. 16 anos.
TODO MUNDO JÁ FOI PARA MARTE. Direção: Telmo Carvalho. Animação. 72’. Ceará. 2022. 12 anos.

OS CURTAS DA MOSTRA OLHAR DO CEARÁ

A MARGEM DE UM RIO QUE CORREM MEUS ANCESTRAIS. Direção: Iago Barreto Soares. Documentário. 13’. Ceará. 2021. Livre.
ALUÁ. Direção: Felipe Camilo. Documentário. 15’. Ceará 2021. Livre.
AQUELE QUE VEIO DO OESTE. Direção: Wesjley Maria. Ficção. 19’. Ceará. 2021. Livre.
BEGE EUFORIA. Direção: Anália Alencar. Ficção/experimental. 20’. Ceará. 2022. 12 anos.
FIO DE ARIADNE. Direção: Mozart Freire e Ton Martins. Ficção. 16’. Ceará. 2021. 14 anos.
MULHERES ÁRVORE. Direção: Wara. Experimental. 17’. Ceará. 2022. Livre.
NA ESTRADA SEM FIM HÁ LAMPEJOS DE ESPLENDOR. Direção: Liv Costa e Sunny Maia. Ficção. 11’. Ceará. 2021. 14 anos.
ÓPERA SEM INGRESSO. Direção: Andreia Pires. Musical. 24’. Ceará. 2022. Livre.
PEDRO. Direção: Leo Silva. Ficção. 11’. Ceará. 2022. Livre.
ROSA NEGRA. Direção: Sabina Colares e Marieta Rios. Documentário. 23’. Ceará. 2022. Livre.

A atriz e produtora Teta Maia e o músico Ednardo serão os homenageados. As homenagens aos dois nomes que têm suas carreiras marcadas pelo cinema, nas telas e bastidores, vão acontecer no Cineteatro São Luiz, respectivamente nos dias 12 e 13, ocasião em que serão agraciados com o Troféu Eusélio Oliveira.

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