quarta-feira, outubro 07, 2020

QUATRO DOCUMENTÁRIOS



Quem está acompanhando as últimas postagens do blog está percebendo que os documentários têm se mostrado mais presentes. Fico pensando se é por que a vida real está me chamando mais atenção ultimamente. E não é por causa do festival É Tudo Verdade, que aconteceu recentemente na modalidade virtual, pois só cheguei a ver um único filme neste festival, que foi o sobre os Paralamas. Como gosto de colocar coisas pessoais nos textos, senti necessidade de falar sobre o doc sobre o Sidney Magal, sobre o Caetano Veloso e sobre os cinéfilos de Nova York - esse último foi o que mais reverberou em mim, que me fez pensar na vida e também no documentário como gênero. Sobre os quatro filmes a seguir, o ideal é que eu falasse sobre eles de maneira mais demorada, mas infelizmente o meu tempo anda curto. Façamos o que é possível, então.

AS MORTES DE DICK JOHNSON (Dick Johnson Is Dead)

Este documentário que estreou recentemente na Netflix muito me fez pensar sobre a finitude da vida, sobre a velhice e, em especial, sobre o quanto é doloroso ver um familiar querido perdendo a memória aos poucos por causa da demência ou do Alzheimer. Kirsten Johnson, a diretora de AS MORTES DE DICK JOHNSON (2020), afirma, logo nos minutos iniciais do filme, sobre o quanto teme o momento em que ela perderá a pessoa que mais ama no mundo, seu pai, o Richard Johnson do título. Então, ela resolve se preparar para esse momento. Seu método é no mínimo curioso: encenar com o próprio pai e com a ajuda de dublês diferentes mortes possíveis para o idoso. O objetivo seria tanto ela quanto o pai se prepararem para a partida. Em alguns momentos, a brincadeira fica na fronteira do mau gosto, mas não deixa de ser bem curioso, especialmente o final. Há vários momentos bem tocantes e tristes que equilibram outros mais bem humorados.

NEVILLE D'ALMEIDA - CRONISTA DA BELEZA E DO CAOS

Neville d'Almeida é um cineasta com quem eu simpatizo bastante já faz alguns anos. Tanto gostava de ver as reprises de seus filmes na televisão, quanto cheguei a locar umas três vezes o VHS de MATOU A FAMÍLIA E FOI AO CINEMA (1991) - por que será?. Mal sabia eu que havia rolado uma confusão em Gramado, quando da exibição deste filme, pois a Cláudia Raia foi uma apoiadora do Collor de Mello e acabou levando vaia junto com a equipe do filme, antes mesmo da exibição. Neville não deixou barato e brigou com o pessoal. Essa e outras histórias são contadas em NEVILLE D'ALMEIDA - CRONISTA DA BELEZA E DO CAOS (2018), de Mario Abbade, que também conta com depoimentos de várias pessoas que se relacionam de alguma forma com o cineasta, como atores e atrizes (Lima Duarte, Regina Casé, Joel Barcellos, Paulo César Pereio, Bruna Linzmeyer, Denise Dumont) e cineastas (Cacá Diegues, Marco Altberg, Cláudio Assis, entre outros). Sonia Braga, pelo visto, ficou sem falar com o diretor por causa do que achou ter sido uma super-exposição em A DAMA DO LOTAÇÃO (1978). As histórias mais interessantes são as que giram em torno de RIO BABILÔNIA (1982), tanto das loucuras das filmagens quanto da batalha para conseguir livrá-lo das garras da censura. Muito legal também tudo que se liga a Nelson Rodrigues, nos bastidores. Fiquei muito interessado nos primeiros trabalhos de Neville, JARDIM DE GUERRA (1970) e MANGUE BANGUE (1971). O primeiro já consegui; o segundo é bem maldito. Vamos ver se acho por aí. No mais, sigo na torcida por novos filmes do cineasta, mesmo sabendo que o cenário não está nada amigável.

OS QUATRO PARALAMAS

Engraçado que na década de 1980 os Paralamas do Sucesso, dentro do cenário das bandas de rock brasileiras, era a minha favorita. Até tive em fita K7 o álbum Big Bang (1989). Depois foi que outras bandas foram ganhando mais a minha simpatia, talvez por que as experimentações com um tipo de som mais brasileiro não me interessavam tanto assim naquele momento. Tanto que voltei a me interessar pela banda quando do retorno pós-acidente, com o excelente Longo Caminho (2002). O documentário OS QUATRO PARALAMAS (2020), de Roberto Berliner e Paschoal Samora, conta a história da banda destacando também a importância de José Fortes, o empresário da banda desde o início, desde quando começou a divulgar fitas demo e a agendar os primeiros shows em locais pequenos. Para o bem e para o mal o filme traz algumas canções inteiras. O videoclipe de "Alagados", por exemplo, é mostrado do início ao fim. Como eu já tinha visto algumas vezes, fiquei um pouco entediado. Como retrato da amizade dos quatro e de uma reflexão sobre a passagem do tempo, o filme é suficientemente forte.

O SAMBA É PRIMO DO JAZZ

Os documentários sobre artistas do cenário musical brasileiro continuam sendo muito bem-vindos. No caso de O SAMBA É PRIMO DO JAZZ (2020), de Angela Zoé, a artista homenageada é Alcione. E pra mim, que nunca fui fã ou mesmo observador da carreira da cantora, foi uma bela surpresa ver todo o seu percurso. Acho interessantes as cenas da atualidade, dos ensaios e da força e da mão-de-ferro de Alcione na condução do seu processo criativo, mas o melhor mesmo pra mim foi ver as imagens de arquivo, com a cantora aparecendo em diferentes visuais, desde a sua juventude. Também não sabia que ela tinha começado a carreira como cantora de jazz nos bares. Tanto que, quando ela foi chamada para gravar o seu primeiro disco, a gravadora estava querendo uma cantora de samba para rivalizar com Clara Nunes e Beth Carvalho, e Alcione falou: "olha, eu não canto samba." Ela acabou sendo convencida e gravou, depois foi se tornando também uma sambista, mas não exclusivamente. Faltou mais emoção ao documentário, mas, mesmo assim, foi bastante enriquecedor.

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