terça-feira, outubro 13, 2020

COZINHAR F*DER MATAR (Cook F**k Kill / Záby Bez Jazyka)



De início, demorei a me acostumar com o filme, até porque os primeiros dois capítulos deste COZINHAR F*DER MATAR (2019) são bastante apressados. E essa pressa passa a impressão de má realização. Essa impressão pode mudar a partir do terceiro capítulo, mais longo, mais lento e mais elaborado, inclusive com uma cena em tons teatrais e câmera estática (a cena do almoço). Cada capítulo apresenta diferentes versões da história errática de um homem com problemas familiares. E todos os capítulos tratam de violência doméstica de maneira, naturalmente, desconfortável. Aos poucos a tragédia e o pessimismo vão tornando o humor (negro) um pouco mais apagado e o filme vai adotando um tom mais sério.

Como a narrativa desta produção checa (e eslovaca) se inicia com um coro grego de mulheres do vilarejo em traje de banho, já se pode imaginar que não faltarão tragédias. Mas depois o filme chega com um tom de comédia, embora dificilmente vá arrancar risadas da plateia. Até porque, logo nos primeiros momentos, o protagonista quer convencer a mãe a passar o apartamento dela para ele (ao que parece, a esposa estaria chantageando o sujeito) e ainda a faz comer uma colher de pasta de amendoim, sendo que ela é alérgica. O resto do capítulo é ainda mais violento, tenso e incômodo, ainda que seja um tipo de violência diferente da vista em filmes de horror e afins. 

COZINHAR F*DER MATAR vai conquistando o interesse (por assim dizer) a partir dos terceiro e quarto capítulos, quando mais informações sobre os personagens nos são fornecidas. Assim, ficamos conhecendo o pai rico do protagonista Jaroslav (Jaroslav Plesl) e um pouco mais sobre a mãe de Blanka (Jazmína Cigánková), sua esposa. O filme vai apostando em situações que podem funcionar como um atrativo para a audiência, como a cena de sexo de Jaroslav com a própria sogra ou as tensões criadas em um supermercado. O choque também surge em uma cena envolvendo uma garotinha e uma rã. Ver também criança com arma na mão é outra coisa que incomoda.

O último capítulo traz uma realidade em que o protagonista é agora uma mulher. E imagina-se que com essa mudança de sexo se poderia mudar um pouco os padrões de comportamento danosos, as falhas de opção e as tendências à violência que surgem de todos os lados. Será?

O filme vem sendo comparado a CORRA, LOLA, CORRA, por razões óbvias, embora possa se pensar em FEITIÇO DO TEMPO também, embora aqui não haja consciência das múltiplas realidades e possibilidades por parte de nenhum dos personagens. E não há leveza. Não que essa fosse intenção da cineasta eslovaca.

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