sábado, outubro 03, 2020

GUERRILHEIROS DAS FILIPINAS (American Guerrilla in the Philippines)



Por mais que a maior flexibilização no distanciamento social tenha me animado um pouco, principalmente agora com a volta do Cinema do Dragão, que está promovendo uma saborosa mostra retrospectiva do Krzysztof Kieslowski, ainda fica aquela sensação de se estar vivendo perigosamente, mesmo cumprindo todos os requisitos de segurança e de distanciamento. De todo modo, está sendo interessante visualizar este mundo meio apocalíptico. Ontem, ao sair do cinema, dois bares no entorno do Dragão estavam funcionando e todas as pessoas estavam lá sem máscara. Então, não sei o que esperar. Ou se podemos nos alegrar por isso. Mas não estou com inspiração nem tempo para falar de nenhum Kieslowski por ora. Quero cumprir com a missão de escrever sobre todos os Langs vistos. Vamos a um de seus trabalhos menos inspirados.

GUERRILHEIROS DAS FILIPINAS (1950) foi feito para pagar as contas, como o próprio Lang dizia. Ele estava precisando de dinheiro, assim como todo profissional. "Até um diretor precisar comer", dizia Lang, quando muitos o perguntavam sobre o motivo de ele ter aceitado fazer este filme. Ele já havia feito quatro filmes sobre a Segunda Guerra Mundial. Na verdade, quatro filmes anti-nazistas. Este aqui seria o quinto, mas abordando o conflito no Pacífico.

Uma coisa que me fez estranhar este drama de guerra foi o fato de ser bem distinto das obras anteriores do cineasta, todas realizadas em estúdio, em fotografia em preto e branco muito bonita e estilizada. Em GUERRILHEIROS DAS FILIPINAS, Lang adota uma fotografia em technicolor um tanto descuidada em comparação até com seus outros trabalhos em cores, nos westerns A VOLTA DE FRANK JAMES (1940) e OS CONQUISTADORES (1941). Nota-se, portanto, um grau muito menor de interesse e de entusiasmo.

Ainda assim, é possível traçar paralelos com outros filmes de Lang que lidam com heróis que lutam contra um inimigo que está em todos os lugares, como nos filmes anti-nazistas O HOMEM QUE QUIS MATAR HITLER (1941), OS CARRASCOS TAMBÉM MORREM (1943), QUANDO DESCERAM AS TREVAS (1944) e O GRANDE SEGREDO (1946). E aqui também o protagonista tenta meios de inteligência para vencer os inimigos, no caso, os japoneses que invadiram as Filipinas. O herói é vivido por Tyrone Power, um dos oito sobreviventes de um bombardeio de aviões japoneses. Eles estavam em um barco a motor. E acabam por desembarcar na ilha, um deles muito ferido, pedindo ajuda aos habitantes em um momento em que o exército americano estava prestes a se render aos japoneses.

O personagem de Power decide, então, fugir para a Austrália, em vez de ser feito prisioneiro. No entanto, a jangada improvisada não vai muito longe e ele acaba retornando e ajudando a resistência. Há um interesse amoroso também, mas acredito que ele mais atrapalha do que ajuda na história. Quando o esposo da mulher morre, fica aquela sensação de "graças a Deus, agora podemos ficar juntos". Nada contra, mas não sei se o público da época pensou nessa situação.

O filme se constrói a partir de episódios, de situações por que passam os soldados americanos, ao se esconder no meio da selva ou a procurar lugares onde possam se ocultar. Há o caso da cirurgia que o protagonista tenta fazer, em vão, por falta de médicos; as formigas nos pés de um deles enquanto o sujeito se esconde na selva de um soldado japonês; o trabalho de guerrilha usando rádio; o dinheiro falsificado que é criado pelos próprios oficiais americanos etc. E há a melhor cena, do ponto de vista gráfico: os soldados americanos armados escondidos dentro da igreja.

Dado o resultado para os padrões do cineasta, é possível entender por que Lang sequer comentou uma linha sobre o filme na entrevista dada a Peter Bogdanovich. Se bem que o próprio entrevistador pode ter preferido não comentar nada a respeito, tendo ele mesmo diminuído a importância da produção.

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