segunda-feira, outubro 19, 2020

LUA VERMELHA (Lúa Vermella)



Sucessão de imagens extraordinárias do mar e da lua. Lençóis cobrindo corpos formando imagens clássicas de fantasmas. A procura do corpo de um homem. Três bruxas no auxílio. O ganido muito estranho de um bode. Mortos e vivos convivendo em um estendido e parado tempo, em um luto que parece não ter fim. LUA VERMELHA (2020), de Lois Patiño, é cinema-poesia. É o tipo de filme que tem uma beleza plástica tão grande e um rigor formal tão admirável que lamentamos não estarmos vendo na telona de um cinema. Mas ao mesmo tempo nos sentimos gratos pela possibilidade de contemplar essas imagens e ouvir essas vozes.

Inclusive, há cenas interiores em que a iluminação também é igualmente impressionante. A história é um pouco difícil de compreender, mas trata-se de um filme mais para se sentir do que para entender. Não há interpretações no que estamos acostumados a entender pelo termo. Há imagens e vozes. Imagens que remetem à morte, vozes que trazem ao mesmo tempo paz e horror. As imagens dos fantasmas nos cenários da natureza também contribuem com o resultado. É o caso de filme que utiliza a singularidade das locações para construir sua trama, a partir da mitologia que o lugar dispõe.

E falando em locações, Patiño já havia feito um filme antes no mesmo lugar, Costa da Morte, no Nordeste da Galícia. Este novo trabalho é um retorno ao misterioso e fascinante local, a fim de, desta vez, contar a história de um mergulhador cujo corpo está desaparecido. O curioso é que a história desse homem surgiu apenas quando o cineasta estava no local, duas semanas antes de começar as filmagens, e assim transformou o que seria algo mais próximo de um documentário em um filme de ficção, envolvendo bruxas, monstros do mar e misticismo.

Como um cineasta que veio dos documentários, ainda que não seja do tipo naturalista, Patiño consegue aqui aliar o acaso dos processos que geralmente ocorrem nos registros documentais com um tipo de direção que parece ter em mente desde o início o que se deseja filmar. O resultado, com o áudio de diferentes pessoas agindo como mortos-vivos ou algo parecido, traz um ar de mistério e de beleza admiráveis. E há o trabalho de som, tanto o som da natureza quanto da música, que certamente em uma sala de cinema apropriada traria uma experiência ainda mais singular.

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