segunda-feira, outubro 12, 2020

SUOR (Sweat)



É curioso ver um filme polonês contemporâneo e sentir uma diferença imensa em como se apresenta a sociedade de um país no intervalo de poucas décadas. Aqui vemos um cenário colorido e vibrante, muito distante, por exemplo, da Polônia cinza dos filmes de Kieslowski. O que não quer dizer que tudo seja exatamente feliz quanto se imagina a princípio. Em SUOR (2020), de Magnus von Horn, somos apresentados a uma jovem treinadora de ginástica famosa em seu país e bastante presente nas mídias sociais. Toda essa superficialidade dos dias de Instagram está lá, mas logo somos apresentados ao lado triste da personagem, Sylwia, às camadas por trás da fama, da beleza plástica e da rotina invejada por muitos.

SUOR foi um dos vários filmes selecionados para Cannes 2020, mas que, infelizmente, por causa da pandemia, tiveram que procurar outros meios de serem vistos. Com o selo de aprovação de Cannes (que tem um significado bastante importante), o filme chega agora à Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, depois de exibições também na modalidade online em festivais na França, na Alemanha, na Suíça, na Islândia, no Canadá e nos Estados Unidos. O lado positivo desse meio de visualização é que aumenta consideravelmente as chances desses filmes serem vistos por muito mais espectadores.

SUOR é o segundo longa-metragem do sueco von Horn, mas quem brilha mesmo é a atriz, Magdalena Kolesnik, em seu primeiro papel como protagonista. A câmera não tira os olhos dela. Somos convidados a participar de sua intimidade, inclusive quando ela não precisa fingir o sorriso que normalmente usa diante das câmeras. E boa parte das vezes é ela mesma que se filma, fazendo seu shake, desembrulhando uma caixa que chegou com produtos de patrocinadores, ou mesmo desabafando sobre suas angústias. Um vídeo que a mostra chorando e triste por estar sozinha é objeto de repercussão nacional e um de seus patrocinadores chega a reclamar.

Há um momento que é o ponto de virada do filme, que é quando ela descobre um stalker estacionado perto de seu prédio. Incomodada com a situação, até porque o sujeito não é nada discreto na demonstração de sua admiração pela moça, ela conta o ocorrido em uma reunião de família e fica contrariada com a opinião da mãe sobre o sujeito - ele poderia ser uma pessoa boa, ela diz. Mais à frente, uma nova situação fará com que ela novamente reflita sobre a vida fora dos corpos bem definidos das academias e dos holofotes das redes sociais. E por mais que epílogo tenha me parecido frágil, não chega a comprometer o resultado e esse belo estudo de personagem.

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