quinta-feira, fevereiro 11, 2016

UM POMBO POUSOU NUM GALHO REFLETINDO SOBRE A EXISTÊNCIA (En Duva Satt på en Gren och Funderade på Tillvaron)



A exibição de UM POMBO POUSOU NUM GALHO REFLETINDO SOBRE A EXISTÊNCIA (2014) na Mostra Cinema em Transe foi uma das experiências mais prazerosas que se pôde ter no cinema recente. O público interagiu muito bem, gargalhando em diversos momentos, e também entendendo que o tipo de humor que o filme de Roy Andersson propõe é também uma crítica ácida e triste a uma sociedade que parece estar pouco se importando com o outro. Todos estamos sozinhos e desamparados. O uso de uma maquiagem que dá um tom esbranquiçado no rosto de alguns personagens é proposital, como que para dar a entender que aquela sociedade está morta.

A estranheza do filme é grande, mas é muito bem-vinda. E só tendo muita má vontade para desistir de sua agradável narrativa. Até porque UM POMBO POUSOU... é um filme em esquetes, 39 esquetes, dentro de uma duração total de apenas 1h40, o que não constitui nenhum incômodo, mesmo para espectadores mais desatentos ou desinteressados. Mas sabemos que é preciso ter um pouco de interesse sim e também um pouco de atenção nos ricos detalhes da cenografia, toda feita em estúdio e de uma beleza que só se compara à de alguns filmes hollywoodianos da década de 1950.

Se o filme peca um pouco, talvez seja por não conseguir fazer todas as esquetes perfeitas. Ou talvez até alcance a perfeição, se é que isso existe, mas como elas são diferentes e algumas são mais engraçadas, enquanto outras são mais amargas, acaba passando essa impressão de irregularidade. Algumas esquetes são bem independentes dentro da narrativa, mas têm um temática que as une, como aquelas que mostram o encontro com a morte. Por mais mórbidas que sejam, são o principal convite ao riso para o público, logo no início do filme. É o momento em que Roy Andersson nos ganha e nos pega pela mão.

Depois disso, alguns personagens aparecem com certa frequência, principalmente os dois vendedores ambulantes de objetos para divertir as pessoas. O problema é que eles são excessivamente tristes – principalmente um deles, que é depressivo – para que consigam encontrar alguém que compre os tais produto. E é neles que o filme mais toca com profundidade a questão da carência afetiva. A falta de calor humano é mostrada mesmo em uma cena rotineira como a de pessoas na parada de ônibus, quando uma delas pergunta que dia da semana é.

Mas uma das características mais marcantes de UM POMBO POUSOU... é o trabalho de encenação, que acontece sempre em uma câmera parada e em imagens dotadas de profundidade de campo. Assim, vemos tudo que acontece dentro do quadro. E todos os detalhes são importantes, alguns mais que outros. A invasão de um exército de outra época em um bar é impressionante em sua construção, assim como também é mais do que eficiente como humor absurdo, até lembrando vez ou outra o humor do grupo inglês Monty Python, embora a proposta seja diferente.

A crueldade humana também exposta, como na cena dos escravos negros entrando em uma espécie de recipiente gigante, ou na cena do macaco de laboratório. Ao final, depois de muitas risadas, fica no ar uma doce melancolia. Doce, no sentido de que acabamos de ver uma obra adorável e cheia de sensibilidade, mas é impossível deixar de constatar o quanto estamos sozinhos.

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