sexta-feira, julho 15, 2011

CRASH – ESTRANHOS PRAZERES (Crash)



Tenho uma leve impressão que a versão de CRASH – ESTRANHOS PRAZERES (1996) que eu assisti no cinema há quinze anos era mais "apimentada" do que essa versão que eu peguei na internet. Lembro de uma cena de sexo no início do filme com a Deborah Kara Unger e o James Spader na sacada de um prédio que parecia filme do Buttman, tal a voltagem erótica. A cena era mais demorada também, se eu não me engano. No IMDB, vi que existe uma versão com dez minutos a mais, que foi a versão que eu vi no cinema naquela época, e outra feita para chocar menos a audiência. Uma pena. Isso tira um pouco da graça do filme, cuja boa parte da força está no erotismo.

Isso pode ter prejudicado um pouco a minha impressão de CRASH nesta revisão. O filme até então estava no topo dos meus favoritos de David Cronenberg. Ainda continua em posição privilegiada, mas não está mais no topo. Hoje em dia, perde para VIDEODROME (1983) e para CALAFRIOS (1975), pelo menos. De todo modo, foi muito bom, ainda que com esse pequeno agravante, rever um grande trabalho de Cronenberg depois de duas obras não muito animadoras, pelo menos para mim – MISTÉRIOS E PAIXÕES (1991) e M. BUTTERFLY (1993).

CRASH é fascinante em sua temática "sexo e acidentes de automóvel" e no quanto isso cabe perfeitamente na obra do cineasta. A cena em que Spader faz sexo com sua esposa (Kara Unger) e ela pergunta coisas como o gosto do sêmen de Vaughan (Elias Koteas) ou se ele viu o seu ânus são puramente cronenberguianas. Outro momento bem familiar na obra de Cronenberg é quando Spader vê as cicatrizes nas pernas de Rosana Arquette, que se assemelham a uma vagina. Quer dizer, até onde não há sexo, tudo é sexo. Inclusive, e principalmente, numa batida de carro que pode ser fatal.

O curioso é que Cronenberg não faria outro filme tão picante em sua carreira. Em que outro filme veríamos personagens masturbando uns aos outros enquanto veem vídeos de acidentes automobilísticos? E que outro filme mostraria de maneira tão mórbida uma simulação do acidente fatal de James Dean? Mas algumas sutilezas também fazem a diferença, como o modo como os personagens interagem uns com os outros, quase sempre com uma estranha calma; ou detalhes como o aumento no tráfego, visto em plano geral, e que se nota antes de os personagens de Spader e Holly Hunter mencionarem tal fato.

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