terça-feira, março 22, 2011

CÓPIA FIEL (Copie Conforme)



A expectativa em torno de CÓPIA FIEL (2010) era grande por uma série de razões. Primeiro, porque já fazia um bom tempo que um filme de Abbas Kiarostami não entrava em cartaz nos cinemas da cidade. O último havia sido o documentário ABC ÁFRICA (2001), numa espécie de festival, mas mesmo assim, eu acabei não vendo. Tudo bem que teve o filme em segmentos CADA UM COM SEU CINEMA (2007), mas ali só apresentava um pequeno curta. Então, a última vez que eu vi um filme do diretor no cinema foi quando O GOSTO DE CEREJA (1997) esteve em cartaz em poucas sessões aqui, no tempo em que era moda passar filmes de vários cineastas iranianos no circuito alternativo. Foi uma experiência fascinante e inesquecível. Meus outros contatos com sua obra na tela pequena - ONDE FICA A CASA DE MEU AMIGO? (1987), ATRAVÉS DAS OLIVEIRAS (1994) e DEZ (2002) - também foram experiências sensoriais e espirituais intensas.

Outro motivo para a grande expectativa estava na presença sempre bem-vinda da maravilhosa Juliette Binoche, atriz que tem cada vez mais pulado de país em país, participando dos mais diversos filmes de diretores consagrados. Engrossam a lista nomes como Amos Gitai, Hou Hsiao-hsien, Abel Ferrara, Michael Haneke, sem falar em filmes de seus compatriotas franceses, além de transitar também por Hollywood. E ela vem aí num filme de ninguém menos que David Cronenberg! Linda, atraente e talentosa, ela tem uma filmografia invejável. Estava curioso para vê-la num filme de Kiarostami, diretor que não é muito famoso por explorar a sensualidade. Até porque, do lugar de onde ele vem, isso é quase proibido. Ainda assim, a cena de Binoche deitada no quarto de hotel, quase implorando pelo amor daquele marido fictício, ainda é carregada de uma sutil sensualidade.

Na trama, um escritor inglês (William Shimell) está em Toscana para uma sessão de autógrafos da versão traduzida para o italiano de seu livro, que lida sobre obras de arte e cópias. No auditório, uma mulher (Binoche) deixa um recado para seu tradutor para que o escritor a encontre numa loja de antiguidades. O lugar é escuro e cheio de esculturas, algumas delas cópias de esculturas famosas. Ele vai até lá, mas não se interessa muito pelo lugar e quer mesmo sair dali, tomar um café, respirar um pouco de ar. E os dois saem para papear e, no caso dele, conhecer um pouco da região da Itália. Depois que uma senhora de um café passa a confundir os dois com marido e mulher, aos poucos eles passam a jogar um pouco com essa possibilidade, até que cada vez mais o jogo vai se tornando sério. O fato de ele ter um avião às nove horas da noite tem feito com que muitos comparem o filme a ANTES DO PÔR-DO-SOL, de Richard Linklater.

O que talvez tenha me deixado um pouco grilado foi o fato de eu ter cochilado lá perto do final do filme, logo depois da conversa de Binoche com a garçonete. De início, culpei a laringite alérgica, mas depois de ter baixado o filme para rever em casa no dia seguinte, a mesma coisa se repetiu. Logo, Haverá algo perto do final do filme que começou a me deixar desinteressado, entendiado até? Quem sabe não foi o próprio semblante de desinteresse do protagonista? A expressão um tanto blasé do escritor diante daquela mulher bela e carente não é algo muito interessante de ver.

O filme ainda conta com uma participação carinhosa do lendário roteirista Jean-Claude Carrière, mais famoso por sua parceria com Luis Buñuel, mas que curiosimente também fez o roteiro de A INSUSTENTÁVEL LEVEZA DO SER, o filme que me apresentou a Juliette Binoche. E a primeira vez a gente nunca esquece.

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