terça-feira, agosto 31, 2010

PAPRIKA (Papurika)



Uma das notícias mais tristes da semana passada foi a do falecimento de Satoshi Kon, um dos maiores gênios da animação japonesa. Sua morte se tornou ainda mais dramática depois que foi divulgada na internet uma emocionante carta de despedida do cineasta, que estava há alguns meses lutando contra um câncer no pâncreas. Não vou negar que chorei ao ler a longa carta. Muitos costumavam dizer que Kon seria uma espécie de herdeiro do veterano Hayao Miyazaki, tanto pela diferença de idade dos dois, quanto pela qualidade de suas obras, já mundialmente aclamadas. PAPRIKA (2006), por exemplo, chegou a passar em diversos festivais, tendo estreado mundialmente no Festival de Veneza. No Brasil, o único filme do diretor lançado comercialmente foi TOKYO GODFATHERS (2003), apenas em dvd.

PAPRIKA foi recentemente mencionado em diversas críticas sobre o mais recente filme de Christopher Nolan, A ORIGEM. E realmente as semelhanças entre os dois chegam a ser assombrosas. Inclusive, a imagem do sonhador vendo o mundo (dos sonhos) desmoronar aos seus pés, entre outros recursos visuais que Nolan soube muito bem materializar, aparecem diversas vezes no desenho. A vantagem de PAPRIKA em relação ao filme de Nolan é que ele é mais delirante, enquanto que A ORIGEM é bem racional e lógico. Satoshi Kon prefere optar por deixar as rédeas soltas, soltar a mão do espectador, a ponto de deixá-lo mais confuso e perdido. Assim como em sua obra de estreia, PERFECT BLUE (1998), Satoshi Kon homenageia diversos filmes e usa sequências que simulam travellings, zooms e outros recursos de câmera, a fim de tornar o filme uma viagem dessas que a gente não sabe se vai voltar.

Na trama, há um equipamento capaz de entrar na mente das pessoas, enquanto elas estão sonhando. O equipamento chama-se DC Mini e foi criado para explorar o inconsciente de pacientes numa clínica psiquiátrica. A chefe da equipe de trabalho, a dra. Atsuko Chiba, passa a usar o equipamento clandestinamente, usando o seu alter-ego: a ninfeta Paprika. O filme começa quando Paprika está prestando serviços ao Detetive Konakawa Toshimi, que sofre de sonhos recorrentes. A certa altura, o filme vai ficando mais complicado, rementendo a uma obra anterior de Kon, a minissérie PARANOIA AGENT (2004), inclusive com a utilização da música como agente perturbador. O final é épico ao estilo pop japonês - eles adoram batalhas com gigantes.

Depois de um deleite visual como PAPRIKA, é aguardar que sua última obra, THE DREAM MACHINE, seja mesmo lançada postumamente. Pelo título, a expectativa é de que tenha uma temática parecida com a de PAPRIKA. Será?

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