quinta-feira, setembro 02, 2010

CORRIDA CONTRA O DESTINO (Vanishing Point)



O Presidente do Festival de Veneza de 2010 Quentin Tarantino, em seu À PROVA DE MORTE, acabou me dando um empurrãozinho para que eu finalmente visse esta importante obra, talvez o mais importante filme sobre carros já feito. CORRIDA CONTRA O DESTINO (1971), de Richard C. Sarafian, não é apenas um filme para cultuadores de carros, mas também uma obra que lida com o sentimento de busca pela liberdade, não necessariamente do ponto de vista do protagonista, pois dele nós pouco sabemos. Sabemos que ele quer chegar a algum lugar, quer cruzar do Colorado até San Francisco, num território basicamente deserto, na velocidade mais rápida que puder, em seu Dodger Challenger, de 1970. Aliás, o filme pode funcionar como uma bela e longa propaganda do carro, que deixa todos os seus perseguidores no mínimo comendo poeira.

A busca pelo espírito libertário é representada principalmente pelo DJ cego Supersoul. Ao ter acesso à sintonia das rádios da polícia rodoviária sobre o misterioso motorista que não consegue ser parado por ninguém, ele vê em Kowalski (Barry Newman) a figura do herói injustamente ameaçado pelo sistema. Em CORRIDA CONTRA O DESTINO, há pouco espaço para diálogos ou mesmo para uma introdução da trama. Só aos poucos vemos alguns flashbacks que ajudam a entender apenas um pouco os motivos de um homem que é piloto de corridas estar empreendendo essa corrida. Há também algumas pessoas que cruzam o seu caminho, como o velhinho que pega serpentes no deserto. Mas a mais memorável mesmo é a moça que dirige nua uma motocicleta. Sua presença, ainda que pudesse ser descartada da trama principal, é além de bela e sensual, bastante intrigante. Surreal até. Outra personagem que chama a atenção no pouco tempo de cena que aparece é a de Charlotte Rampling. Eu, que só conheci a atriz em sua fase madura, não sabia de sua beleza quando jovem.

A homenagem que Tarantino faz ao filme no seu À PROVA DE MORTE foi mais do que justa. E vendo CORRIDA CONTRA O DESTINO percebemos o quanto os filmes dos anos 70 eram contestadores e adultos. Ainda mais levando em consideração que o comportamento suicida de Kowalski não é lá um exemplo a se seguir, ainda que não deixe de ser admirável. Mas aqueles eram outros tempos e o cinema tinha conquistado uma liberdade de expressão com a nova Hollywood que até parece que os cineastas queriam botar pra fora tudo o que não podiam falar durante os anos de censura.

CORRIDA CONTRA O DESTINO ganhou um remake em 1997, estrelado por Viggo Mortesen, mas muitos dizem ser bem descartável.

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