quinta-feira, setembro 16, 2010

RIO, 40 GRAUS



Fui inventar de fazer o trabalho de conclusão do curso de especialização sobre "Vidas Secas", o livro e o filme, e ainda estou bem enrolado na problematização. Enquanto isso, estou lendo o livro "Nelson Pereira dos Santos - O Sonho Possível do Cinema Brasileiro", de Helena Salem. E tenho achado a biografia de Nelson bastante interessante. Em geral, as biografias têm a vantagem de nos apresentar o contexto histórico em que se insere o biografado. E ler sobre o antes e o durante das filmagens de RIO, 40 GRAUS (1956) é bem mais do que ler sobre as dificuldades de produção, que se sabe serem muitas. Mas o que eu mais achei interessante no momento anterior à estreia de NPS na direção foi a sua ligação com o Partido Comunista.

Impressionante como grande parte dos intelectuais da época eram ligados ao comunismo. E no momento em que o filme foi rodado, o Partido Comunista foi contra a sua exibição. Eles achavam que uma obra de caráter tão popular como essa deveria ser lançada apenas depois da revolução, já que havia, de fato, uma conspiração para mudar radicalmente o sistema político brasileiro. Nelson não quis saber e foi rebaixado de seu cargo no partido por causa de sua desobediência. Ele em geral não gostava muito das imposições radicais do partido.

Quanto ao filme, não cheguei a gostar de verdade, ainda que reconheça seus valores, principalmente levando em consideração a precariedade da produção e as dificuldades encontradas. Do jeito que ficou, parece uma obra amadora. Mas não uma obra amadora da grandeza de um LADRÕES DE BICICLETA. Até as cenas de futebol são mal filmadas. Mas o nosso cinema ainda estava tateando por um caminho. A sequência musical no final ainda têm algo de chanchada da Atlântida e o drama dos personagens não é suficientemente forte para provocar comoção. Na verdade, não só vi o filme com certo distanciamento, mas incomodado com a cópia ruim. Tive que ver, inclusive, na tela do meu computador, pois nenhum dos meus players liam. Talvez isso tenha prejudicado um pouco a apreciação.

RIO, 40 GRAUS é um filme-painel que mostra a rotina difícil de garotos vendedores de amendoins e de pessoas pobres do morro. Foi o primeiro filme a mostrar o negro com realismo. Nelson, aproveitou os obstáculos que teve, quando foi obrigado a interromper as filmagens logo nos dois primeiros dias, para fazer amizade com os moradores do morro de Cabuçu. Moradores esses que seriam seus futuros atores, que contracenariam com profissionais como Jece Valadão e Glauce Rocha. A trama se desenrola em cinco pontos turísticos do Rio: Quinta da Boa Vista, Copacabana, Maracanã, Pão de Açúcar e Corcovado. No final, difícil não ficar com a canção "A voz do morro", de Zé Keti, na cabeça.

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