sexta-feira, setembro 24, 2010
JUDEX
Soube da existência (e da importância) de Georges Franju através de uma edição da saudosa Cine Monstro. Lá havia um belo texto sobre OLHOS SEM ROSTO (1960), considerado por muitos a obra-prima do diretor. JUDEX (1963) é o seu segundo filme mais mencionado. Ainda que não seja um filme de horror, Franju mostra o quanto ama o universo fantástico. Não o fantástico governado pela magia e afins, mas o fantástico de pessoas de carne e osso que se vestem com capas pretas ou roupas fora do comum para fazer o que acham que é certo. Ou errado. Depende do personagem e do que ele acha.
O Judex do título foi criado no início do século XX pelos franceses Louis Feuillade e Arthur Bernède. Veste-se de preto, usa uma capa e um chapéu parecidos com o do personagem Sombra. Louis Feuillade também chegou a dirigir uma série de filmes de um famoso personagem do cinema mudo: o Fantômas, que é homenageado numa cena de JUDEX, de Franju, espécie de remake de JUDEX (1916), do Feuillade. Importante dizer que tudo isso que eu estou escrevendo vem de pesquisa, pois eu mesmo não sabia da história do personagem e de sua importância dentro da cultura pop europeia. E já que estamos falando de descobertas através de pesquisa, fiquei também bastante surpreso ao saber que IRMA VEP, de Olivier Assayas, é inspirado em LES VAMPIRES, outra cinessérie de Feuillade. Assim, eis mais um nome para eu ficar de olho.
Quanto às minhas impressões sobre o filme, ele me pareceu bem estranho, no bom sentido do termo. Senti um pouco a falta de algumas cenas, como se tivessem retirado trechos durante a edição, tornando difícil às vezes entender a trama. De certa forma, isso é bom, pois nos deixa mais ligados no que está havendo e dá um ar surreal. Certamente é um filme que deve se beneficiar de uma revisão. A homenagem ao cinema mudo está presente principalmente no uso de cartelas que introduzem capítulos/sequências. Há uma cena antológica e que acontece logo no início, na cena do baile à fantasia, onde todos na festa usam cabeças de pássaros. Bizarro ver Judex entrando na festa e mostrando truques de mágica.
O filme começa com um homem rico e corrupto recebendo uma carta de Judex, que lhe dá um ultimato. A partir daí, uma série de acontecimentos movimenta a trama, mas nada disso valeria se Franju não desse ao filme uma atmosfera que une mistério, humor e aventura de um jeito que a gente, que se alimenta demais da cultura pop americana, está pouco acostumado.
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