quarta-feira, setembro 22, 2010

RIO, ZONA NORTE



A segunda incursão de Nelson Pereira dos Santos na direção foi bem mais tradicional que a sua estreia, com RIO, 40 GRAUS (1956), desta vez, seguindo um terreno seguro da estrutura clássica americana, mas ainda influenciado pelo neorrealismo italiano, com direito a muito sofrimento por parte do protagonista (Grande Otelo). A participação de Grande Otelo seria supostamente um chamariz para as bilheterias, já que o ator na época já era um astro das chanchadas da Atlântida, tendo feito diversos filmes em parceria com Oscarito. A participação de Ângela Maria, então uma cantora muito famosa, também era outro atrativo para o público, embora hoje em dia o tipo de música que ela faz possa soar bastante estranho aos nossos ouvidos pós-contracultura.

RIO, ZONA NORTE (1957) nasceu com a mesma equipe que fez o primeiro filme, instalada no casarão de Botafogo e vivendo com pouca grana. Desta vez, eles contaram com uma produção mais profissional, graças ao prestígio conseguido com a primeira produção de Nelson. O filme conta novamente com a presença de Jece Valadão e Zé Kéti, que participaram do filme anterior. RIO, ZONA NORTE lembra algumas obras de Vittorio De Sicca, com personagens sofridos, pobres e sem sorte na vida.

Grande Otelo faz o papel de Espírito da Luz, um sambista talentoso, mas que acaba sendo alvo dos espertinhos de plantão, que se aproveitam de sua ingenuidade para capitalizar em cima de seu trabalho. O filme já começa em tom trágico, com a imagem de Espírito da Luz caído inconsciente em cima de um vagão de trem. Seu passado recente é descortinado através do velho uso dos flashbacks. Ao contrário do que eu pensava, as sequências musicais mais agradam do que aborrecem. Inclusive, alguns sambas, compostos pelo Zé Kéti, são mesmo muito bonitos. Pena que o filme teve uma distribuição muito ruim, o que acarretou em um tremendo fracasso de bilheteria, não chegando sequer a se pagar. Mas o tempo tratou de dar a devida importância à obra.

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