quarta-feira, agosto 18, 2010

DESTINOS CRUZADOS (Mother and Child)



O trabalho de Rodrigo García já me chamou a atenção desde a sua estreia nos cinemas, com o delicado COISAS QUE VOCÊ PODE DIZER SÓ DE OLHAR PARA ELA (1999), um filme-painel conduzido com a segurança de um diretor experiente. Filho do grande Gabriel García Marquez, Rodrigo García foi se mostrando cada vez mais interessado em dramas intimistas, em conversas que vasculham a alma de seus personagens, em geral, mulheres. Tanto que ele fez um longa apenas de depoimentos de quatro belas atrizes interpretando mulheres se confessando para a câmera. CONFISSÕES AMOROSAS (2001) seria o seu trabalho mais radical. O gosto por ouvir e criar um clima de intimidade entre personagem e espectador acabou gerando uma obra-prima, a primeira temporada da série EM TERAPIA (2008), toda dirigida por ele. A partir da segunda temporada, ele entregou a direção para outros, ficando apenas como produtor executivo.

Seu novo filme, DESTINOS CRUZADOS (2009), se aproxima bastante do também ótimo QUESTÃO DE VIDA (2005). Ambos são filmes-painéis. Se em QUESTÃO DE VIDA, temos o perfil de nove mulheres, DESTINOS CRUZADOS diminui para três, tendo mais chances de aprofundar a psicologia das personagens. O título genérico nacional poderia servir para praticamente qualquer filme e o cartaz brasileiro não ajuda a preparar o espectador para o que lhe está reservado. O cartaz americano, além de mais bonito, faz jus ao título original, que lida com o assunto da maternidade.

Três mulheres, seguindo suas vidas de maneiras bem diferentes. Annette Bening é uma cinquentona solteira que vive ranzinza, cuidando de sua velha mãe doente e trabalhando num hospital. Aos quatorze anos de idade, ela engravidou, e a filha foi dada para adoção. Naomi Watts é uma executiva bem sucedida de 37 anos que consegue o emprego e a simpatia (para usar de eufemismo) do dono da empresa, o viúvo vivido por Samuel L. Jackson. A terceira personagem importante é Kerry Washington, que frustrada por não poder engravidar procura com o marido o caminho da adoção.

Aparentemente, o filme seria bem mais lacrimoso, mas García tem direção segura e evita transformar o filme num dramalhão. O que não impede que algumas lágrimas furtivas não possam surgir aqui e ali. Naomi Watts está deslumbrante como uma mulher de personalidade forte e independente. Aliás, todas as mulheres do filme parecem ser fortes à sua maneira. Mas García uma hora deixa as máscaras caírem. E é aí que o filme mostra a sua grandeza. A cena com Annette Bening conversando (e confessando) com o namorado no carro é bem representativa disso. E para os fãs de Naomi Watts, além da grande performance, ela está bem sexy, com direito a cenas de sexo até que ousadas. E não se engane com o nome de Alejandro González Iñárritu como produtor executivo. O filme é de García. Até porque Guillermo Del Toro e Alfonso Cuarón também são produtores executivos.

P.S.: Ontem vi "New Man in Charge", o "epílogo" de LOST disponibilizado na internet. Estrelado pelo Ben e contando com outros dois nomes da mitologia da série, apenas serve para matar um pouco da saudade em seus onze minutos. Ou para vermos que estamos passando muito bem sem ela.

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