terça-feira, agosto 24, 2010

O MUNDO IMAGINÁRIO DO DR. PARNASSUS (The Imaginarium of Doctor Parnassus)



Daria para fazer uma enquete: qual o diretor mais azarado? Terry Gilliam ou John Landis? (Se bem que José Mojica Marins ganha se entrasse na enquete.) O caso de John Landis é bem mais grave e tem afetado a sua carreira até agora, mas não dá para deixar passar as desventuras que Terry Gilliam tem passado nos últimos anos. Seu último sucesso foi OS 12 MACACOS (1995) e lá se vão quinze anos. Depois de alguns filmes que renderam muito pouco nas bilheterias e foram recebidos com frieza pela maior parte da crítica, ele tentou fazer um filme sobre Don Quixote. Que naufragou. Foi uma novela que até virou um documentário sobre o desastre das fiilmagens - LOST IN LA MANCHA. E quando as coisas pareciam estar bem com O MUNDO IMAGINÁRIO DO DR. PARNASSUS (2009), Heath Ledger, o protagonista, faz o favor de morrer no meio das filmagens.

Mas Gilliam não se deu por vencido. Ele deve ter seguido a filosofia de vida de um personagem de A VIDA DE BRIAN, filme do célebre grupo de comediantes do qual fazia parte. No final de A VIDA DE BRIAN, um dos sujeitos que estava crucificado dizia para olhar as coisas sempre pelo lado bom. Há sempre um lado bom. E assim ele usou de criatividade e de limões fez uma limonada. E do jeito que ficou, O MUNDO IMAGINÁRIO DO DR. PARNASSUS nem parece ter sofrido a falta de Heath Ledger, já que as vezes em que Johnny Depp, Jude Law e Colin Farrell aparecem no lugar do personagem de Ledger ficaram perfeitas dentro do enredo. Tudo bem que na maioria das vezes o filme desce quadrado, mas acredito que esse é um problema da maior parte dos trabalhos de Gilliam.

A trama envolve um pequeno grupo de circo intinerante, que sofre com a falta de dinheiro e de mais atrações. Por outro lado, eles possuem algo de realmente mágico. Detrás do palco, há um universo mágico incrível, mas que o patriarca Dr. Parnassus, vivido por Christopher Plummer, prefere que não seja usado e muito menos abusado. É algo perigoso demais. Um dia, dirigindo-se a outra cidade, eles se deparam com a figura de um homem enforcado. E não deixa de ser bem mórbido ver Heath Ledger como o enforcado. Parece algo profético. Os mais supersticiosos podem dizer que filmar aquilo foi de mau agouro, pode ter contribuído para a morte real do astro. De qualquer forma, Gilliam oferece mais uma obra de resistência. Ainda que utilize efeitos de CGI, ele ainda prefere um elaborado trabalho de direção de arte, que muitas vezes remete a um de seus melhores filmes, AS AVENTURAS DO BARÃO MUNCHAUSEN (1988).

P.S.: Como Gilliam é teimoso, o trabalho sobre Don Quixote foi retomado. THE MAN WHO SHOT DON QUIXOTE está previsto para o próximo ano, com Robert Duvall como o personagem-título. Será que agora vai?

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