quinta-feira, agosto 19, 2010

PONYO - UMA AMIZADE QUE VEIO DO MAR (Gake no ue no Ponyo)



No fim de semana passado, enquanto estava na fila para comprar o ingresso de DESTINOS CRUZADOS no Iguatemi, ouvi uma conversa entre um menino de cerca de dez anos e sua mãe. Ele se referia à produção de Hayao Miyazaki como ruim, porque, segundo ele, foi "produzida pela PlayArte". Para ele, o bom provavelmente seria ver SHREK ou MEU MALVADO FAVORITO, um desses desenhos animados blockbusters que saem em 3D para capitalizar. Nessa hora me deu vontade de dar uma de Woody Allen em NOIVO NEURÓTICO, NOIVA NERVOSA e me intrometer na conversa, explicando a diferença entre uma distribuidora brasileira e uma produtora. Mas fiquei na minha, afinal, esse negócio de ficar ouvindo a conversa dos outros não é muito bonito, embora a gente, estando sozinho, não tenha muitas vezes como evitar. Resultado: PONYO - UMA AMIZADE QUE VEIO DO MAR (2008) só dura uma semana em cartaz em Fortaleza. Uma pena, pois Hayao Miyazaki merecia um tratamento melhor, mais sessões disponíveis, embora seja fácil entender a lógica capitalista. Mas um outro problema é que a fraca bilheteria no Brasil de PONYO pode comprometer o lançamento dos próximos trabalhos do mestre Miyazaki.

Mas deixemos de lamúrias e celebremos mais um trabalho pronto de um resistente da animação tradicional em tempos onde a animação por computador tem se estabelecido como definitiva. Até em termos de sofisticação visual, PONYO é um filme mais simples do que os anteriores, A VIAGEM DE CHIHIRO (2001) e O CASTELO ANIMADO (2004), trabalhos que ajudaram a popularizar o nome de Miyazaki no Ocidente e que tinham traços mais finos e produção mais caprichada. PONYO é também um dos filmes mais direcionados ao público infantil do diretor. Ainda assim, tem o seu interesse para o público adulto, que vê com prazer a história fantástica de uma peixinha com rosto de criança que passa a amar um garotinho de cinco anos.

Como em todo trabalho do diretor, PONYO - UMA AMIZADE QUE VEIO DO MAR possui um universo bem particular, onde o fantástico predomina sobre o real. Assim, vemos ondas com olhos, peixes com cara de gente, um bruxo que vive no mar, entre outras imagens impressionantes para uma criança, mas não menos para um adulto, dada a beleza de como são mostradas. As sequências das tempestades provocadas pela chegada de Ponyo, já transformada em menina, possuem uma mágica toda própria.

No aspecto da consciência ecológica, PONYO é quase irmão de PRINCESA MONONOKE (1997) e NAUSICÄA DO VALE DOS VENTOS (1984), embora um pouco menos engajado. O amor puro entre os dois está acima de tudo. Pode até parecer ingênuo, ainda mais quando aparece a mãe de Pônio no final do filme, mas lembremos que é um filme para os pequenos. E que nós, adultos, temos o privilégio de também partilhar.

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