segunda-feira, março 27, 2006

JOHN WOO EM DOIS FILMES

 

No começo dos anos 90, quando Jean-Claude Van Damme trouxe John Woo para os EUA e os seus filmes chineses começaram a chegar em vídeo no Brasil, eu não me entusiasmei muito pra assistí-los. A única amostra dos filmes pré-Hollywood de Woo que eu tinha visto era FERVURA MÁXIMA (1992), o filme com mais balas por segundo que eu já vi na vida. Embora eu goste de um bom tiroteio, achei aquela overdose de balas do filme bem exagerada. Desde então, só passei a acompanhar mesmo a carreira americana do diretor, à medida que os filmes chegavam aos cinemas, destaque para A OUTRA FACE (1997), seu melhor trabalho no ocidente. 

Como tenho o costume de andar pelas ruas do Centro olhando as bancas de revista, dei de cara com fitas VHS de THE KILLER (1989) e BALA NA CABEÇA (1990), as duas custando apenas dois reais, cada. Após uma rápida checada na qualidade aparente das fitas, resolvi arriscar e levá-las pra casa. Se não rodasse no videocassete, o prejuízo não ia ser tão grande. Felizmente elas rodaram. Só a fita de BALA NA CABEÇA que estava um pouco suja, mas deu pra ver o filme completo. Então, pra encerrar esse primeiro momento de "orientação" do blog, nada como dois super-clássicos da fase áurea de John Woo. 

THE KILLER - O MATADOR (Die Xue Shuang Xiong / The Killer) 

Engraçado como esses filmes de John Woo são carregados de sentimentalismo, coisa que eu sempre achei meio esquisita no diretor. Em alguns momentos, as emoções dos personagens e a música que toca ao fundo parecem meio cafonas, mas aos poucos a gente se acostuma e acha até legal. Surpreendentemente, o primeiro filme que me veio à mente enquanto assistia a THE KILLER foi SUBLIME OBSESSÃO, de Douglas Sirk. Sinopse do filme de Sirk: "playboy apaixona-se por uma viúva e passa a persegui-la. Ao tentar fugir, a mulher é atropelada e fica cega. Arrependido, o homem estuda medicina só para curá-la e fazer com que ela o veja com outros olhos." Na trama de THE KILLER algo semelhante acontece. Chow Yun-Fat é um assassino profissional que durante um de seus serviços cega acidentalmente uma moça. Sofrendo com o remorso, ele se aproxima da jovem, que agora tenta se adaptar ao mundo da escuridão. Ele aceita um novo trabalho, a fim de receber dinheiro para pagar uma cirurgia nos olhos da agora namorada. Ao mesmo tempo em que é perseguido pelos mesmos mafiosos que o contrataram, o matador também é vigiado pelo policial vivido por Danny Lee, que desde o início já guarda uma admiração pelo assassino bem intencionado. Um dos temas caros a John Woo é justamente o da valorização da amizade, do senso de companherismo. Apesar das diferenças, esses dois homens acabam gostando bastante um do outro. Claro que tudo é contado com muita bala, muita perseguição de carros, muito sangue jorrando em câmera lenta. Até mesmo os benditos pombos, marca registrada dos filmes de Woo, aparecem numa cena na igreja. THE KILLER talvez seja o grande filme do diretor, sua obra-prima.

BALA NA CABEÇA (Die Xue Jie Tou / Bullet in the Head)


Esse filme teve uma produção mais ousada, com uma reconstituição de época muito boa e cenas de guerra que envolvem muitos figurantes, armas e helicópteros. Nessa época, John Woo estava com tudo e suspeito que esse filme deve ter sido um dos mais caros que ele realizou em Hong Kong. O filme conta a história de três amigos bem diferentes que, após uma confusão, precisam fugir de Hong Kong. O país estava passando por uma processo complicado. Nas ruas havia muita confusão entre estudantes e policiais. As pessoas queriam se livrar do governo inglês. O clima era aquele de "xô, capitalismo inglês, que venha o comunismo chinês"! Os três rapazes saem dessa atmosfera hostil pra outra muito pior, quando decidem fugir para o Vietnã, justamente durante a fatídica guerra contra os Estados Unidos. Os três acabam se envolvendo com mafiosos e sendo capturados pelos vietcongues. O ator mais conhecido do filme é Tony Leung (de 2046 e AMOR À FLOR DA PELE). Gosto muito dos dois primeiros atos do filme, com ação non-stop. Nem dá muito tempo de pensar. O negócio é curtir as seqüências eletrizants de ação. Só não curti muito o último ato. Senti que Woo exagerou um pouco no melodrama e no comportamento e destino dos três personagens. Se não fosse por isso, BALA NA CABEÇA seria tão bom quanto THE KILLER.

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