terça-feira, março 28, 2006

SAL DE PRATA

  

"Tem as pessoas que se masturbam pensando em alguém, e as pessoas que se masturbam pensando nelas mesmas. As primeiras são as mais bacanas, mas as outras ganham muito mais dinheiro." Até que eu gostei dessa frase do filme, embora não tenha entendido direito. SAL DE PRATA (2005), de Carlos Gerbase, é um exemplo da falta de criatividade no cinema brasileiro. Em muitos filmes, o uso da metalinguagem pode significar um atestado de falta de idéias disfarçado de inteligência, de intelectualidade. O problema é que esse filme do Gerbase não engana ninguém. 

Em TOLERÂNCIA (2000), a trama até que era bem conduzida. Embora o filme não seja essas maravilhas, tinha a beleza de Maitê Proença, um tema interessante. E como diretor, Gerbase não é ruim. O que não dá pra entender é como os produtores aceitaram fazer um filme com um roteiro tão tosco. Se falta criatividade, porque não encomendar um roteiro de terceiros ou adaptar uma obra literária? Talvez a presença de Camila Pitanga e de Maria Fernanda Cândido no elenco tenha ajudado um pouco aos produtores aceitarem fazer o filme. Confesso que fui atraído por esse filme por causa do trailer, que mostrava essas duas atrizes juntas no mesmo quarto, na promessa de fazerem um menage à trois com um sujeito (Marcos Breda). Tudo propaganda enganosa. Nem mesmo nudez o filme tem. Ele até engana, com aquela introdução mostrando Camila Pitanga teoricamente nua, mas vista só dos ombros pra cima num quase close, falando sobre regras de censura nos filmes enquanto simula estar gozando. 

Uma discussão sobre os rumos do cinema atual também aparece numa cena. Afinal, cinema é cinema apenas se for feito em película, ou vale também vídeo, digital etc? É nesse momento que o personagem de Marcos Breda sofre um enfarte e morre. Sua namorada, a economista vivida por Maria Fernanda Cândido, procura então conhecer os roteiros não filmados que ele deixou. Aos poucos, vai descobrindo que ele estava tendo um caso com uma de suas atrizes (Camila Pitanga). Ao mesmo tempo, ela também estava com caso com outro cineasta de quinta categoria (Bruno Garcia). Quer dizer, é um desfile de chifres. Se tivesse mais gente, o filme poderia ser confundido com um daqueles westerns cheios de bois. 

O início de SAL DE PRATA é um pouco ridículo, mas ao menos a condução da estória não nos deixa aborrecidos. Além do mais, é sempre curioso ver um filme que se passa em Porto Alegre, longe do eixo Rio-São Paulo ou das caatingas nordestinas. SAL DE PRATA cai no buraco mesmo do meio pro final, quando vários cineastas tentam adaptar os roteiros de Breda. Aí não tem escapatória. Quando se acendem as luzes, o que sai da boca de muita gente é a frase: "que filminho de merda esse." E com razão.

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