De tanto a turma falar de NO LIMITE DA REALIDADE (1983), lá fui eu desencavar a minha fita gravada da TNT há mais de dois anos. Foi também uma forma de entrar novamente em contato com o cinema de John Landis. Como todo filme de segmentos, é um trabalho irregular, mas que vai melhorando cada vez mais à medida que se aproxima do final. Principalmente nos terceiro e quarto segmentos, dirigidos por Joe Dante e George Miller. O episódio de Miller, aliás, pode-se dizer que seja uma obra-prima, mostrando John Lithgow tendo um ataque de nervos dentro de um avião.
Infelizmente, mesmo com toda a beleza dos episódios de Dante e Miller, NO LIMITE DA REALIDADE ficou mais famoso por causa do terrível acidente ocorrido durante as gravações do segmento de John Landis, onde Vic Morrow (justamente o protagonista!) morreu num acidente com um helicóptero, juntamente com mais duas crianças. Ao que parece, a hélice do avião cortou fora a cabeça de Morrow. Isso prejudicou bastante a carreira do diretor, que vinha de um grande sucesso, UM LOBISOMEM AMERICANO EM LONDRES (1981). Landis teve que testemunhar várias vezes no tribunal, sendo acusado de negligência. É um caso bastante delicado que já deu muito pano pra manga. Inclusive, é possível encontrar na internet o vídeo com a gravação do acidente. Deve ser bem triste e chocante de se ver. Parece que Steven Spielberg, produtor da série ao lado de Landis, nem chegou a comparecer numa dessas sessões de tribunal. Ele escapou ileso disso tudo.
Esquecendo um pouco esse triste incidente - se é que isso é possível -, dá pra se falar da importância dessa bela antologia, que procurava homenagear a clássica série ALÉM DA IMAGINAÇÃO (1959/65), criada por Rod Serling. A série teve mais duas encarnações, uma em 1985 (que eu cheguei a acompanhar na Globo na adolescência) e outra mais recentemente, em 2002/2003. Dos quatro segmentos do longa, apenas o de John Landis é uma história original. Os outros três foram baseados em episódios da série clássica.
O filme começa com um prólogo sensacional, dirigido por Landis, com Dan Aykroyd e Albert Brooks conversando e cantando uma canção do Creedence Clearwater Revival. Até que o som do carro morre e eles passam a fazer algumas brincadeiras durante a viagem.
O primeiro segmento, de Landis, mostra Vic Morrow pagando o preço por ser racista. Depois de ter xingado judeus, negros e orientais num bar, ele se vê no lugar dessas pessoas em tempos e lugares diferentes. O segmento não é dos melhores, mas até hoje não sei como Landis conseguiu fechar a história depois da morte do ator principal.
O segmento dirigido por Spielberg é o mais fraco dos quatro. É também um dos mais fracos de toda a carreira do diretor. Ainda assim, não deixa de ser interessante e bastante representativo do lado "Peter Pan" do cineasta. Ele mostra um velhinho entrando num asilo para idosos e mostrando o quanto se pode ser jovem, mesmo estando num corpo de velho.
O bicho começa a pegar a partir do segmento de Joe Dante, quando uma mulher atropela levemente um garoto e lhe oferece dinheiro para pagar a sua bicicleta batida. O menino pede que, em troca, ela lhe dê carona até sua casa. Chegando lá, as coisas começam a ficar muito estranhas.
Fechando com chave de ouro, temos o já citado segmento de George Miller. É desses de deixar a gente entusiasmado mesmo. Não deixa de ser curioso o fato de o melhor dos episódios partir das mãos do diretor menos criativo da turma.
Parece que a Warner está preparando uma edição especial em DVD da série. Tomara que saia com um material extra bem generoso, pois o filme merece.
P.S.: Está no ar a nova coluna no CCR. O tema dessa vez é "manias de cinéfilo".
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