quarta-feira, março 22, 2006

2046 - SEGREDOS DO AMOR (2046)

  

 Sempre tive um pouco de dificuldade de absorver ou de me encantar com os filmes de Wong Kar-wai. O primeiro filme dele que vi foi justamente AMOR À FLOR DA PELE (2000), um dos mais incensados pela crítica. E pra falar a verdade achei o filme bastante chato, arrastado e repetitivo. Depois de ouvir tanta gente elogiando o homem, resolvi pegar algo dele pra ver em vídeo. Gostei bastante de ANJOS CAÍDOS (1995), talvez o seu filme mais fragmentado e com mais estética de videoclipe. Peguei também FELIZES JUNTOS (1997), que também gostei, mas é o tipo de filme que não me emocionou em nenhum momento. É mais o caso de se valorizar a estética, digo, a fotografia, a direção de arte, essas coisas, do que o drama dos personagens. 

2046 - SEGREDOS DO AMOR (2004) leva as obsessões estilísticas de Kar-wai a graus extremos. E dá-lhe filtros, câmera lenta, fumaça, efeitos estilososos. Isso pode aborrecer aos que não gostam desse aspecto do diretor, mas deve agradar bastante aos seus fãs. Pra mim, o filme foi a melhor experiência que eu tive com o cinema de Kar-wai. Foi o mais próximo que eu estive de me envolver e de me emocionar com um filme dele. Ainda assim, não gostei das partes futuristas do filme. As partes inciais e finais de 2046, com a narração de Tony Leung e aquela historinha que se passa no futuro, são bem chatas. Ao menos dá pra se entreter com o visual, realmente de cair o queixo. 

A melhor coisa do filme é o miolo, que trata da relação de Tony Leung com Gong Li, Zhang Ziyi, Maggie Cheung e Faye Wong. O filme atinge o seu pico quando focaliza no relacionamento do protagonista com a personagem de Zhang Ziyi - belíssima, um colírio para os olhos. Adoro as cenas em que ela aparece nos cantos da tela, naquela excepcional fotografia em scope. Aliás, dá pra chamar de scope a proporção de 2.40:1? Reparei que na sala em que eu assisti ao filme, a tela não dava conta da largura do filme, ficando um pedaço da fotografia de fora. Mas nada que comprometa a apreciação. A fotografia ficou a cargo de Christopher Doyle, fotógrafo excepcional que tem se dedicado a trabalhar bastante no oriente. 

Curiosamente, no mesmo dia, eu havia assistido a DUMPLINGS, de Fruit Chan, que também conta com a fotografia dele. Doyle também aparecerá nos créditos do próximo filme de Shyamalan, A DAMA NA ÁGUA. Ele é o fotógrafo favorito de Kar-wai, tendo trabalhado com ele na maioria de seus filmes. A música também é um dos pontos fortes do filme. 

A trilha sonora ficou a cargo de Peer Raben, o homem que fazia trilhas para Fassbinder. Como 2046 é um filme bem mais melodramático que AMOR À FLOR DA PELE, a música emocinante de Raben veio bem a calhar. Aliás, o fato de 2046 ter mais emoções exacerbadas, mais lágrimas e mais sexo foi um dos motivos de eu ter gostado mais desse filme do que de AMOR À FLOR DA PELE, onde nada se via, tudo se escondia. Afinal, quem quer ver um filme sobre pessoas comprando noodles? (Estou brincando, hein.) 

2046 é o filme que encerra a trilogia iniciada com DAYS OF BEING WILD (1991) e continuada com AMOR À FLOR DA PELE.

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