sábado, fevereiro 20, 2021

O ESPELHO DA BRUXA (El Espejo de la Bruja)



Conhecer certos filmes e certas particularidades de determinadas cinematografias requer, na maioria das vezes, um empurrãozinho. É por isso que é tão importante uma revista de cinema, uma aproximação com um grupo de cinéfilos e também uma curadoria. Foi graças à curadoria de Fernando Brito para a Versátil que eu pude conhecer o incrível O ESPELHO DA BRUXA (1962), de Chano Urueta, presente no box Obras-Primas do Terror - Horror Mexicano. E pra mim foi uma surpresa e tanto entrar em contato com esse filme em particular.

Lembremos que aqui no Brasil, foi em 1964 que José Mojica Marins lançou o seu À MEIA-NOITE LEVAREI SUA ALMA, o filme que é considerado o ponto de partida para o horror no cinema brasileiro, pelo menos declaradamente horror. Ou seja, dois anos antes o gênero parecia já estar bem estabelecido no México. Tanto é que no mesmo box tem um filme de 1959 (MISTÉRIOS DO ALÉM-TÚMULO, de Fernando Méndez, ainda a ver). Como não sou estudioso do gênero no país que acolheu Luis Buñuel por um bom tempo, não sei desde quando ele existe por lá.

Mas o que importa agora é falar um pouco deste O ESPELHO DA BRUXA, sobre o quanto ele é inacreditável em sua proposta de ser ao mesmo tempo um filme sobre um espírito vingativo com ajuda de uma bruxa e um filme sobre um cientista maluco, aos moldes de Frankenstein, mas com uma clara influência da obra-prima OS OLHOS SEM ROSTO, de Georges Franju, lançado dois anos antes na França.

Na trama, uma mulher descobre, através do espelho mágico de sua governanta, uma senhora com contato com entidades ocultas, que seu marido pretende matá-la. Desesperada, ela não sabe o que fazer, pede ajuda à governanta, que procura auxílio das entidades, mas as criaturas do além afirmam que morrer é o destino da jovem mulher, que nada poderia ser feito. A mulher, então, aceita o copo de leite envenenado do marido - clara alusão a SUSPEITA, de Alfred Hitchcock.

Depois de sua morte, a governanta promete à falecida que ela será vingada. E logo sabemos o motivo de o sujeito querer se livrar da esposa: ele queria trazer para casa sua amante, que logo se torna a nova esposa. Acontece que não será fácil para essa nova esposa viver naquela casa assombrada pelo fantasma da falecida e situações incríveis acontecerão e trarão tragédia para si. E isso é só o começo de um filme que segue por caminhos inacreditáveis e cheios de invenção e ainda tem uma força narrativa admirável. A casa onde se passa a trama também traz um ar gótico todo próprio e herdeiro do cinema de horror clássico americano e britânico, mas com aquele tempero todo particular da cultura mexicana e seus arroubos melodramáticos.

Também me agrada a dublagem não ser do tipo "para o mercado internacional", como a Itália costumava fazer. Ao que parece o filme foi feito pensando principalmente no mercado local e de países de língua espanhola. Que já é, aliás, um baita mercado. Agora é me deliciar com os demais filmes presentes no box. Tenho certeza que novas e agradáveis surpresas me esperam.

+ TRÊS FILMES

O MENINO E O VENTO

O diretor argentino Carlos Hugo Christensen não era do clube do Cinema Novo e faz aqui uma obra deliciosamente anacrônica, com um pé na literatura herdeira do conto de Aníbal Machado. Dois anos antes, o diretor havia adaptado outro conto famoso de Machado, "Viagem aos Seios de Duília". O MENINO E O VENTO (1967) tem um quê de fantástico muito interessante. Talvez no cinema brasileiro o vento tenha sido novamente destacado com tanta força apenas por Walter Lima Jr., em seu A OSTRA E O VENTO (1997). Na trama, acompanhamos a história de um engenheiro que é chamado para depor em uma pequena cidade de Minas Geras sobre o desaparecimento de um menino. Ele é réu e considerado responsável pelo ocorrido pela população. O filme fica ainda melhor a partir de uma hora de duração, quando começamos a ouvir o relato do personagem de Ênio Gonçalves sobre os mágicos dias ao lado do garoto e sua fixação pelo vento. Há algo que me lembrou certo cinema produzido na Itália na mesma época - os diálogos, o mistério, as relações entre os personagens. Pena que a cópia existente do filme não seja lá essas coisas.

A ALDEIA DOS AMALDIÇOADOS (Village of the Damned)

Com a notícia da morte de Barbara Shelley, fui procurar um filme que tivesse a atriz no elenco em meu acervo. Tinha em um dos boxes da Versátil (Obras-primas do Terror 1) este A ALDEIA DOS AMALDIÇOADOS (1960), de Wolf Rilla, horror britânico com um pé na sci-fi dos anos 50 que eu me devia ver há algum tempo. Acho que não vi nem a refilmagem do John Carpenter. O filme já começa de maneira muito intrigante, com uma cidade inteira parada por horas, com seus moradores desmaiados. E aí surge uma nova surpresa, na forma de um grupo de criancinhas loiras e de olhar ameaçador. Senti falta de um maior impacto na conclusão do filme (embora nunca vá esquecer da "parede de tijolos”), mas gosto do sabor de produção barata e da boa condução narrativa. O papel de Barbara Shelley é até pequeno. Ela é a esposa do professor vivido por George Sanders.

HALLOWEEN 4 - O RETORNO DE MICHAEL MYERS (Halloween 4 - The Return of Michael Myers)

Michael Myers, o psicopata que nunca morre, sobrevive ao incêndio que o deixou em coma por 10 anos no segundo filme (1981) e volta para aterrorizar a pequena cidade. O elenco não conta com Jamie Lee Curtis, mas traz mais uma vez Donald Pleasance no papel do Dr. Loomis, o especialista no assassino. O alvo da vez do assassino é a garotinha que esteve com a personagem de Lee Curtis no primeiro filme (1979). HALLOWEEN 4 - O RETORNO DE MICHAEL MYERS (1988), de Dwight H. Little, tem alguns bons momentos, mas não sei o quanto os clichês já não estavam gastos no ano da realização do filme. De todo modo, as cenas que se passam dentro de uma casa, quando Michael está, são eficientes. E há um final até que bastante surpreendente.

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