terça-feira, setembro 20, 2016

TRÊS COMÉDIAS BRASILEIRAS























Por mais que muitos reclamem das comédias brasileiras feitas para um grande público, até que elas têm o seu grau de interesse. Algumas, como é o caso do primeiro filme assumidamente do coletivo Porta dos Fundos, até ganharam fama de péssimo por muitos, quando, na verdade, há algo de interessante nelas. E nem falo em um sentido atropológico ou de um estudo das tendências do humor e da sociedade brasileira contemporâneos, mas em termos formais e narrativos mesmo. Falemos um pouco desses três filmes.

PORTA DOS FUNDOS - CONTRATO VITALÍCIO

Ian SBF já havia sido visto no cinema, na direção da comédia dramática ENTRE ABELHAS (2015), estrelada por Fábio Porchat e que trazia alguns membros do Porta dos Fundos em papéis pequenos. PORTA DOS FUNDOS – CONTRATO VITALÍCIO (2016) até tinha chances de ter sido um bom filme, mas, ao que parece, o grupo ainda não aprendeu a fazer algo que não fosse em esquetes. Como se trata de uma narrativa mais longa, em certo momento, ela perde a graça. Mas a primeira metade é divertida, bem conduzida, e tem os talentos do Porchat e do Gregório Duvivier encabeçando um projeto ambicioso, mas que ao mesmo tempo não deseja sair do território nacional, com suas piadas que só brasileiros entendem. Na história, os dois são amigos que trabalharam juntos em um filme que foi premiado em Cannes. Acontece que, na noite da premiação, Duvivier desaparece misteriosamente, só reaparecendo vários anos depois, para virar a vida do amigo de cabeça pra baixo, com a ideia de um filme maluco, sobre sua experiência em ter sido sequestrado por seres que vivem nas profundezas da Terra.

UM NAMORADO PARA MINHA MULHER

Infelizmente este filme vai ser lembrado também por causa da morte recente de Domingos Montagner, que interpreta o "Corvo", um sujeito cuja especialidade é conseguir acabar com o casamento dos outros, uma vez que ele seja contratado. Na trama, Caco Ciocler é um sujeito que não aguenta mais o jeito chato e rabugento da mulher, vivida por Ingrid Guimarães. Acontece que ele não tem coragem de pedir o divórcio ou a separação. Por isso aceita essa sugestão de um amigo. Assim, a mulher conheceria outro homem e ela mesma pediria a separação. Um dos pontos positivos de UM NAMORADO PARA MINHA MULHER (2016) é a direção segura de Julia Rezende, que já provou que sabe lidar tanto com comédias quanto com dramas mais sérios, como PONTE AÉREA (2015). Pena que o roteiro não ajude muito, no caso deste novo filme. Ainda assim, dá pra sair do cinema mais leve, depois de dar umas boas risadas. Além de o elenco de apoio ser muito simpático (Miá Mello, Paulo Vilhena, Marcos Veras), o papel caiu como uma luva para Ingrid Guimarães. E como desgostar de um filme que começa com "What a wonderful world" cantada por Joey Ramone?

DESCULPE O TRANSTORNO

A primeira vez que eu vi a Clarice Falcão foi na comédia EU NÃO FAÇO A MENOR IDEIA DO QUE EU TÔ FAZENDO COM A MINHA VIDA, de Matheus Souza. Era um filme menor, mas que já explorava bastante a simpatia dessa moça, que seria melhor vista como humorista do Porta dos Fundos e como cantora também. A presença dela no coletivo certamente se devia à parceria com Gregório Duvivier, que foi seu marido, mas ela tinha brilho próprio, ótimo senso de humor, além de ser bela em sua estranheza. Acabou saindo do grupo, provavelmente por causa da separação do casal. DESCULPE O TRANSTORNO (2016, foto) parece mais um filme do coletivo, já que traz o então casal e mais outros dois membros da turma em papéis menores. O filme trata de um sujeito que manifesta dupla personalidade, conforme suas idas ao Rio ou a sua casa em São Paulo. O engraçado é o gatilho para a transformação do personagem em Duca, o "monstro" da história (se compararmos com O Médico e o Monstro). Novamente aqui a turma utiliza referências bem brasileiras, como a novela MULHERES DE AREIA, o que restringe um pouco o filme ao mercado local, mas ao menos o número de piadas internas é menor. A direção de Tomas Portella é que é um pouco frouxa e a história não desenvolve bem uma conclusão. Ainda assim, rende uma sessão da tarde descompromissada e agradável, se você gosta dos atores.

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