quinta-feira, setembro 22, 2016

O HOMEM NAS TREVAS (Don’t Breath)























Não dá pra negar a eficiência do cineasta uruguaio na condução narrativa e na construção de uma atmosfera de suspense em O HOMEM NAS TREVAS (2016), da mesma forma como era admirável a sua reconstrução de um clássico do cinema de horror em A MORTE DO DEMÔNIO (2013), sua estreia em Hollywood. Talvez, inclusive, estejamos presenciando a chegada de um grande diretor de gêneros que andam em baixa nos Estados Unidos. Não que tenham deixado de lucrar, mas que não se manifestam em abundância e excelência como em décadas passadas.

O problema de O HOMEM NAS TREVAS é que é difícil torcer pelo grupo de personagens que são vítimas dos ataques do homem cego. Afinal, foram eles que entraram naquela casa para roubar. E roubar um homem cego. Isso não quer dizer que estejamos nos sentindo juízes daqueles jovens infratores, mas que o cineasta não foi suficientemente capaz de nos colocar em seus sapatos, como fez tão bem Hitchcock em PSICOSE, para citar o exemplo mais clássico, ou tantos outros diretores.

A coisa começa a pender um pouco mais nada balança, contra o tal homem cego, quando descobrimos mais sobre ele; sobre o que ele esconde. E isso já é um pouco antecipado logo na primeira cena do filme, em que o vemos carregando, em um plano geral, o corpo de uma mulher. Mas essa é uma dessas cenas que costumam ser esquecidas pelo espectador quando a narrativa opta por apresentar, em uma estrutura tradicional, os personagens que fazem pequenos roubos em casas.

Os dois rapazes e a moça não são muito diferentes de tantos outros personagens marginais e ladrões de bancos que aprendemos a gostar ao longo desses mais de cem anos de cinema. Mas talvez por Alvarez não estar muito interessado em lhes dar profundidade, isso pode ter sido um dos motivos de o filme não ter atingido o grau de excelência que gostaríamos.

Mas não dá também para reclamar muito. Quando o homem cego entra em ação como uma ameaça assustadora, somos jogados em uma espécie de filme de monstro, com a diferença que o monstro aqui é uma pessoa de carne e osso e com uma deficiência física, ainda que com uma força e uma agilidade admiráveis. Ele é um ex-fuzileiro do exército que ficou cego durante uma guerra e que ainda mantém o vigor da juventude.

Aos poucos, o tal "filme de monstro" vai se tornando também uma espécie de mata-mata, com a qualidade de não haver muitos personagens e de ter várias sequências de fazer o espectador ficar caladinho e com os braços agarrados à cadeira. A sobriedade do filme é outro aspecto que merece ser louvado, além de ser mais uma bem-sucedida obra a usar as trevas e o medo do escuro como um de seus eixos. No mais, merecem palmas, em seu desempenho, tanto Stephen Lang, como o homem cego, quanto Jane Levy, como a garota ladra.

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