sexta-feira, dezembro 18, 2015

FARGO – A SEGUNDA TEMPORADA COMPLETA (Fargo – The Complete Second Season)



O formato de minissérie ou de série fechada tem dado certo, como é o caso de AMERICAN HORROR STORY e também de TRUE DETECTIVE. Não é preciso que um espectador tenha acompanhado a temporada anterior para poder começar a apreciar a nova. E ainda há a vantagem de a produção se destacar das outras séries nas premiações, aumentando suas chances nas indicações. FARGO é outro bom exemplo dessa safra recente de séries fechadas. E felizmente das melhores que se tem notícia. Diria que a melhor.

A segunda temporada (2015) se passa cerca de 20 anos antes da primeira, tendo em comum um personagem coadjuvante da primeira, que agora aparece como principal, o policial Lou Solverson, agora vivido por Patrick Wilson, em atuação sóbria. Ele é um dos homens honrados da série, um sujeito que lutou no Vietnã, mas que conseguiu sair de lá são. Agora sua grande batalha é torcer pela luta de sua jovem esposa contra um câncer no seio.

Os demais personagens são sujeitos violentos, como os irmãos Gerhardt, que lutam para manter a grande propriedade e os negócios escusos em sua região, enquanto são ameaçados por forças rivais. Se do lado dos burros e desastrados Gerhardts quem ganha mais destaque é justamente um índio muito inteligente e sagaz (Zahn McClarnon), do outro lado da disputa, temos um sujeito negro que parece saído de um filme do Tarantino, o capanga Mike Milligan (Boken Woodbine).

Quem não é violento por natureza acaba sendo violento por força das circunstâncias, por assim dizer, e a segunda temporada não se chamaria FARGO se não trouxesse novamente mais um banho de sangue. Tudo bem que tudo começa com a atuação de um dos irmãos Gerhardt, mas o que desencadeia a série de efeitos dominó da série é a decisão da cabeleireira Peggy Blumquist, que atropela acidentalmente o caçula da família Gerhardt e sai arrastando o seu corpo ainda em vida no para-brisa do carro até a garagem da sua casa. O pobre do marido, um açougueiro, Ed Blumquist (Jesse Plemons), por amor à esposa, acaba tendo que destruir os restos mortais do bandido/vítima usando uma ferramenta de seu trabalho – um moedor de carne moída quebra um galhão nessas horas.

E em meio a esse humor negro todo especial, a segunda temporada ainda tem o mérito de trazer elementos dramáticos que a tornam tão ou mais especial do que a primeira, com personagens mais carismáticos e adoráveis. Sem falar que há um episódio tão fantástico (pense no uso que você quiser do termo), "The Castle", o penúltimo, que eleva FARGO à categoria de série cult.

Outro lindo destaque da série é a utilização da tela dividida das mais variadas maneiras, mexendo com o tempo e com as perspectivas, e trazendo um ar de ainda mais sofisticação para a série, que também se ressalta pela beleza da fotografia em cores fortes e pela direção de arte caprichada, que reconstrói o encanto dos anos 1970. Sem falar que de vez em quando ouvimos pérolas musicais da época, como "War pigs", do Black Sabbath tocando no último episódio.

Pra encerrar, mesmo tendo a convicção de que falei tão pouco da série, como não ficar arrepiado com o diálogo entre Peggy e Lou no carro de polícia no último episódio? Peggy é a personagem da vida de Kirsten Dunst, o auge de sua carreira até o momento, e que também surge em um momento particularmente interessante dos discursos feministas. E que bom que isso se dá em uma série de tão alto valor.

Nenhum comentário: