sexta-feira, dezembro 25, 2015

A FELICIDADE NÃO SE COMPRA (It's a Wonderful Life)



Antes tarde do que nunca. Depois de décadas de cinefilia, só hoje peguei pra ver o grande clássico de fim de ano A FELICIDADE NÃO SE COMPRA (1946), de Frank Capra. O porquê disso? Talvez por preconceito, por achar que fosse cafona (logo eu, que adoro melodrama, vejam só), ou por muitas vezes preferir algo mais alternativo ou diferente daquilo que é normalmente citado nas listas mais convencionais. O fato é que foi um erro meu, que felizmente tive tempo de desfazer.

A FELICIDADE NÃO SE COMPRA é desses filmes que aquebrantam o coração e elevam a alma. Um exemplar de uma época mais inocente da humanidade e do cinema e com uma estrutura formal bem clássica e gostosa e de acompanhar, o filme se inicia com orações de diferentes pessoas pela vida de um homem, George Bailey, vivido por um dos atores mais queridos de Hollywood, James Stewart. Em seguida, vemos o ponto de vista dos anjos, que resolvem fazer a sua parte e enviar um de seus membros para ajudá-lo, um anjo de segunda categoria que nem asas tinha ganhado ainda. Salvar aquele homem seria a sua grande oportunidade.

Mas antes disso o filme volta no tempo até a infância de George, quando ele trabalhava em uma farmácia (as crianças já trabalhavam naquela época) e, acabou evitando que uma pessoa morresse envenenada. Na lista de suas atitudes bondosas iniciais também está o salvamento da vida de seu irmão pequeno. Nota-se que esse sujeito desengonçado que é George tem um coração enorme, bem característico de fábulas. E é bem o que esta obra-prima de Capra é, uma fábula, além de ser também um melodrama e um filme que dialoga com o espírito dos Estados Unidos do pós-guerra – provavelmente a paranoia da Guerra Fria ainda não houvesse se instalado.

E ao contrário do que se possa parecer, o filme não é também um libelo ao american way of life, no sentido de enaltecer o capitalismo, a não ser que seja de maneira muito sutil, pois os atos de George Bailey são bem autruísticos. Diferente do homem de negócios vivido por Lionel Barrymore, que desde o início se revela o grande vilão da história, uma espécie de diabo que tenta seduzir o nosso herói com dinheiro para que ele deixe de beneficiar as outras pessoas e pare de prejudicar os seus negócios.

No fim das contas, o dinheiro, apesar de ser um bem necessário para a realização de muitas coisas, inclusive trazer mais alegria, conforto e tranquilidade para sua esposa adorável (Donna Reed, apaixonante) e seus filhos, acaba sendo algo de pouca importância comparado com tudo o mais que ele havia conquistado e melhorado durante sua existência na Terra. Tudo fica muito claro a partir da ação do anjo vivido por Henry Travers. E nisso, A FELICIDADE NÃO SE COMPRA é um dos mais lindos libelos sobre o valor da vida que o cinema já criou.

Na época em que foi realizado, o filme dividiu opiniões dos críticos e é até fácil entender o motivo, já que se trata de uma obra que anda bem próxima do kitsch, mas que, com o passar dos anos, principalmente quando começou a ser reprisada na televisão, tornou-se um clássico de valor quase que incontestável. É o caso de obra que só fica melhor à medida que envelhece. E que, justamente por ser mais antigo, reverbera como a mensagem de um velho sábio que está ali para nos levantar o espírito e nos mostrar o quanto temos sorte.

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