terça-feira, novembro 18, 2014

ASSIM FALOU O AMOR (Minnie and Moskowitz)























Depois da decepção que foi para mim OS MARIDOS (1970), com personagens masculinos chatos numa narrativa que parece não querer terminar, a impressão que eu tive com ASSIM FALOU O AMOR (1971), o trabalho seguinte de John Cassavetes, foi completamente oposta: embora não seja uma comédia romântica convencional, o filme é cheio de amor e tem uma leveza que não se costuma ver nos outros títulos do cineasta.

Ele continua mordendo e assoprando, mas há mais uma trégua para o espectador, já que o personagem masculino da vez é muito simpático e carismático. Seymour Moskowitz, vivido pelo velho amigo do diretor Seymour Cassel, é tudo o que não se esperaria de um par romântico. Desajeitado, feio, com uma barba e um bigode que passam um ar de sujeira, sem classe e sem dinheiro, ele acaba representando para a personagem, a adorável Minnie Moore, de Gena Rowlands, aquilo que ela não encontrou em homens ricos e cheios de cultura.

Aquele humilde atendente de estacionamento não se conforma em ser inferior na escala social à bela e elegante curadora de museu. E sua intenção em ganhá-la é tanta que ele tenta até no grito. Aliás, como se grita em ASSIM FALOU O AMOR. Um dos blind dates de Minnie (em cena brilhante de Val Avery), inclusive, é um sujeito que fala tão alto que incomoda. E faz rir.

E falando em fazer rir, é impressionante o quanto os limites entre o drama e a comédia são tênues no filme. Embora muitas vezes nos peguemos rindo de orelha a orelha, há momentos, em especial os que mostram a solidão e a carência afetiva dos personagens, que são de fato muito tocantes. Há uma cena que trafega entre o riso e o choro, que é a cena da caminhonete, perto do final.

Apesar de ser uma das obras mais "feel good" do diretor – provavelmente a mais, nesse sentido –, ASSIM FALOU O AMOR é uma screwball comedy que reinventa as histórias de amor. Não apenas por colocar um ogro no papel de um possível galã, mas também pela rejeição de Cassavetes à velha fórmula hollywoodiana das comédias românticas.

Seus personagens eternamente inseguros e amargos continuam presentes. E se uma cena tem muito romance, ele a coloca junto com um mix de ansiedade e incerteza que corrói a alma de seus heróis. Sempre que seus personagens estão ficando felizes, acontece algo para os deixarem tristes. É um filme raivoso e ao mesmo tempo delicado. E é nessas curvas sinuosas que Cassavetes nos presenteia com um de seus mais belos trabalhos.

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