sexta-feira, março 18, 2011

SENTIMENTO DE CULPA (Please, Give)



O nome de Nicole Holofcener é uma novidade para mim. Mas felizmente uma ótima novidade. Havia esnobado o filme anterior da diretora, AMIGAS COM DINHEIRO (2006), mas não cometi o mesmo erro com SENTIMENTO DE CULPA (2010). Ao que parece, ela é uma diretora de muita sensibilidade que trata de crônicas do cotidiano e de personagens que se vêem em situações psicologicamente incômodas. Até parece uma romancista de primeira categoria, com o tratamento que dá a seus personagens e com uma excelente condução narrativa. Estou falando de SENTIMENTO DE CULPA, mas acreditando que seus longas para cinema anteriores - WALKING AND TALKING (1996), LOVELY & AMAZING (2001) e o já citado AMIGAS COM DINHEIRO - também têm algo em comum com este excelente trabalho. Aliás, em comum, uma certeza, eu sei que têm: a presença de Catherine Keener em todos esses filmes. Holofcener também dirigiu dois episódios da saudosa série A SETE PALMOS (2001-2005).

Em SENTIMENTO DE CULPA, vemos um painel bem estruturado, composto por duas irmãs que moram com uma avó de 91 anos. Quem mora no mesmo apartamento da velhinha enjoada são as suas duas netas, vividas por Rebecca Hall e Amanda Peet. A personagem de Rebecca Hall, a jovem triste que trabalha como assistente num hospital de prevenção do câncer de mama, manipulando aquela máquina que prensa os seios das mulheres, é a que cuida da velha, enquanto que a irmã, mais bonita e que expõe um visual sempre bem cuidado, com bronzeamento artificial, trabalha numa clínica de estética. Aliás, vale destacar aqui que há tempos eu não via Amanda Peet tão linda. Totalmente bitch, mas totalmente adorável. Acho que desde MEU VIZINHO MAFIOSO ela não aparece com tanto sex appeal e beleza.

Mas o que mais justifica o título nacional é a personagem de Catherine Keener, que, junto com o marido (Oliver Platt), compra em leilões e principalmente de famílias de um ente querido morto, peças e mobílias que passam a ser vendidas por um preço exorbitante numa loja em Manhattan. O que incomoda a personagem de Keener é o fato de comprar barato de uma família que está sofrendo para ganhar muito dinheiro com isso. Eles, inclusive, estão esperando a velha de 91 anos que mora ao lado morrer para que possam comprar o apartamento e ampliar o seu lar. A personagem de Keener tenta compensar a culpa que sente dando esmolas para mendigos ou tentando se voluntariar em algum projeto de caridade. (Provavelmente, muitos ricos devem fazer o mesmo pela mesma razão.)

O curioso é que a personagem de Keener é baseada na própria diretora, que também já se viu com esse dilema ético - seria religioso se o filme focasse no catolicismo. A personagem de Rebecca Hall, embora não transpareça, ao cuidar da avó doente e sacrificando sua vida afetiva, provavelmente o faz para evitar o sentimento de culpa. A irmã, por outro lado, ainda que demonstre descaso e desrespeito, tem mais camadas do que se imagina. E assim a rede tecida por Holofcener vai se desenvolvendo de forma muitas vezes cômica, outras dramática o suficiente para levar o espectador às lágrimas. Um pequeno grande filme que deve ser melhor conhecido pelo público.

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