terça-feira, março 08, 2011

GISELLE



O cinema brasileiro entre os anos 60 e 80 produziu coisas que muita gente só acredita vendo. GISELLE (1980), de Victor di Mello, é um desses casos. O filme surpreende se levarmos em conta a época em que foi produzido, bem como se levarmos em consideração os politicamente corretos dias de hoje. Até mesmo um assunto absolutamente delicado como a pedofilia é abordado no filme, como também o foi em AS SAFADAS, no segmento de Inácio Araújo.

GISELLE tem de tudo: cavalos copulando explicitamente numa das primeiras sequências; uma cena de sexo na cachoeira ao som de "Let it be", dos Beatles, numa versão instrumental ("Yesterday" também é ouvida mais adiante); cenas de sexo hetero, homo e bissexuais, além de um estupro; e uma corajosa alfinetada na ditadura militar, num dos melhores momentos do filme, quando vemos Monique Lafond, uma das grandes musas de Walter Hugo Khouri, interpretando uma marxista que foi torturada pelo regime militar e que ainda faz reuniões às escondidas.

Tudo isso é emoldurado em absurdos letreiros que apresentam o filme como uma suposta comparação do que iremos ver com Sodoma e Gomorra, com uma sociedade em decadência. O absurdo é que sabemos que esse texto inicial moralista foi enxertado apenas para ajudar a passar o filme pela censura. E deu tão certo que GISELLE foi vendido para vários países, fazendo bastante sucesso lá fora. Aqui no Brasil, segundo a edição de nº 52 da revista FilmeCultura, o filme está na 70ª posição no ranking nacional de bilheteria - deve ter caído um ponto, pelo menos, depois de TROPA DE ELITE 2.

A Giselle do título é interpretada pela jovem Alba Valéria, uma moleca espevitada que adora sexo, não importando em qual modalidade e vive sempre feliz, numa espécie de alegria contagiante. Assim, ela faz sexo com o capataz do sítio, vivido pelo então galã Carlo Mossy, mas também curte a relação homo com sua madrasta (Maria Lúcia Dahl). E quando flagra o capataz fazendo sexo com o seu primo homossexual, em vez de sair escandalizada, prefere se juntar à festa. É um filme libertino para alguns, libertário para outros. Vai de como cada um vê a liberdade absoluta apresentada.

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