sexta-feira, março 11, 2011

BOCA DE OURO



Pouco antes de adentrar o sertão nordestino para dirigir a sua obra-prima (VIDAS SECAS, 1963), Nelson Pereira dos Santos aceitou o convite de Jece Valadão para ser o diretor da primeira adaptação para o cinema de uma obra de Nelson Rodrigues. BOCA DE OURO (1963) tem todas as marcas que caracterizariam outros filmes baseados em Rodrigues, mas com o sexo ainda mostrado de maneira um pouco mais tímida, levando em consideração o que outros cineastas fariam nos anos 70 e 80. Ainda assim, é uma obra forte e ousada, pesada do ponto de vista da violência, especialmente em seu terceiro ato, o mais realista dos três.

O filme é o nosso RASHOMON, com a diferença que o mesmo caso é contado pela mesma mulher (Odete Lara) e não por pessoas diferentes, como no filme de Akira Kurosawa. Em BOCA DE OURO, o bicheiro conhecido como uma espécie de chefe do crime do Rio de Janeiro, faleceu e uma equipe de jornalistas entrevista uma mulher que teve contato com o Boca anos atrás. É quando ela conta um episódio envolvendo o Boca e um casal, Leleco (Daniel Filho) e Celeste (Maria Lúcia Monteiro). Esse mesmo episódio é contado de acordo com o sentimento da mulher em relação ao gângster que possuia uma dentadura de ouro e que tinha mandado construir um caixão de ouro para nele ser enterrado quando morrer.

Jece Valadão está perfeito no papel. Tão bom que eu duvido muito que Tarcísio Meira tenha chegado perto na versão mais nova da peça, de 1990, dirigida por Walter Avancini, e que eu até hoje não vi. O filme foi um grande sucesso de bilheteria, dado o prestígio popular que Nelson Rodrigues tinha, por causa de uma coluna muito lida no jornal chamada "A Vida como Ela É". Mas como Nelson Pereira dos Santos não era produtor, não lucrou muito com o sucesso. Quanto à crítica da época, a maior parte não gostou do filme, que só passou a ser mais valorizado com o passar dos anos, a ponto de ser considerado por muitos uma obra-prima do cinema popular brasileiro.

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