segunda-feira, fevereiro 18, 2008

SANGUE NEGRO (There Will Be Blood)



Do primeiro ao último fotograma, SANGUE NEGRO (2007) é um filme perturbador. A música de Jonny Greenwood, membro do Radiohead, quase não nos dá trégua, causando uma expectativa de que algo de muito ruim está prestes a acontecer, gerando um certo mal estar. A fotografia, assinada por Robert Elswit, parceiro de Paul Thomas Anderson desde BOOGIE NIGHTS (1999), é extremamente escura, quase se fundindo ao preto do petróleo e à escuridão da noite de uma civilização que ainda não usufruia dos benefícios da energia elétrica. Tanto a música quanto a fotografia são elementos ameaçadores, totalmente coerentes com o protagonista, Daniel Plainview, vivido com uma intensidade fora do comum por Daniel Day-Lewis, provavelmente o maior ator vivo do mundo.

No início do filme, Plainview encontra num buraco no meio do deserto uma pepita de ouro, que lhe serve como veículo de implantação de um novo negócio: a extração de petróleo. Assim, ele vai comprando aos poucos os terrenos secos onde há petróleo por uma ninharia, já que a terra é seca e a população é carente. Numa cena em que ele e o filho H.W. visitam um dos donos de terra, nem mesmo pão eles têm para oferecer, apenas um pouco de leite de cabra e umas batatas. H.W., o garoto, é o único elo de ligação de Plainview com a humanidade, a única pessoa em quem ele confia e tem algum sentimento de carinho. Quando acontece um acidente com o garoto que dificulta a comunicação entre os dois e ele se torna ainda mais sozinho, seu sentimento de desdém e ódio aos homens só tende a crescer e a transformá-lo ainda mais num monstro, numa criatura que se sente mais confortável na escuridão, nas sombras. Nem mesmo há espaço para mulheres na vida de Plainview e o próprio filme é essencialmente masculino, trazendo até o simbolismo fálico da enorme torre de perfuração jorrando petróleo.

Mas embora o filme seja 90% Day-Lewis, há um personagem de grande importância para a estória. Trata-se do jovem pastor evangélico Eli Sunday, vivido por Paul Dano (de PEQUENA MISS SUNSHINE), o único a rivalizar com Plainview em ambição. No caso de Eli, ele se utiliza da mentira para enganar os fiéis, que acreditam ser ele um profeta que tem visões divinas e é guiado por Deus. Há também um outro personagem importante, ainda que apareça pouco, que é o homem que diz ser meio-irmão de Plainview, filho do mesmo pai, e que é recebido com um misto de receptividade e desconfiança pelo já enriquecido homem.

Paul Thomas Anderson disse em entrevista que durante a realização de SANGUE NEGRO o seu filme de cabeceira, que ele sempre assistia um pouco antes de dormir, era O TESOURO DE SIERRA MADRE, de John Huston. Provalvemente para capturar o espírito de ambição que impregna o filme. Mas há outro clássico do passado que SANGUE NEGRO faz lembrar de imediato: ASSIM CAMINHA A HUMANIDADE, de George Stevens, que também narra a saga de um grande empresário da indústria de petróleo do início do século XX.

SANGUE NEGRO concorre aos Oscar de filme, direção, ator, roteiro adaptado, fotografia, montagem, direção de arte e edição de efeitos sonoros. Até pensei em fazer um ranking dos candidatos ao Oscar de melhor filme, mas achei uma tarefa ingrata e complicada, levando em consideração o carinho que eu tenho pelos demais candidatos. Mas tudo leva a crer que o grande embate da cerimônica desse ano vai ser entre os filmes que trazem a ambição como mote.

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