sábado, setembro 15, 2007

POR TODA A MINHA VIDA - RENATO RUSSO



Tenho muita saudade do Renato Russo. Acho que nunca nascerá outro artista que fale tão profundamente à juventude de um país. Quando ele morreu, em outubro de 1996, o meu pai havia morrido há poucos meses. E o disco que eu mais ouvia nesse período entre mortes era "A Tempestade", o testamento da Legião Urbana. Não era bem um disco pra se ouvir e ficar bem de vida, mas eu tenho mesmo uma atração pelo mórbido que me persegue desde a infância. No dia que ele morreu, fiquei muito triste, obviamente, mas a ficha só caiu no dia seguinte, quando botei novamente "A Tempestade" para tocar. Ao ouvir a faixa "Música Ambiente", lágrimas rolaram quando eu ouvi os versos "Se um dia fores embora, te amarei bem mais do que esta hora..." E ainda pranteei durante vários dias, ouvindo as canções desse disco quase que diariamente. Eu finalmente entendia o que ele queria dizer com "a febre que não passa", com "doenças incuráveis", com "a paixão já passou em minha vida". Inclusive, para um ariano, dizer que a paixão já passou em sua vida só pode ser mesmo um atestado de morte iminente, já que áries, o signo de fogo por excelência, não pode viver sem paixão. Lembrando que o lado dramático, excessivamente emocional de Renato, também se devia ao seu ascendente em Peixes. Ele costumava dizer em algumas entrevistas que o seu fim talvez fosse parecido com o de Kurt Cobain, outro pisciano depressivo. Aliás, o lado "messiânico" do signo de peixes aparece no disco, quando, ao final de "Aloha", Renato canta: "que se faça o sacrifício e cresçam logo as crianças".

O programa POR TODA A MINHA VIDA - RENATO RUSSO, exibido na última sexta-feira pela Rede Globo em homenagem ao cantor e compositor, apesar de ter os seus problemas ligados à dramatização - não gostei muito do ator que interpreta o Renato - me deixou emocionado. Sou fã da Legião Urbana desde o final dos anos 80 e a minha paixão pela banda não se dissipou e de vez em quando é renovada. O programa tem uma estrutura bem organizada, dividido nas quatro estações do ano. O capítulo "Primavera" mostra a infância de Renato Manfrendini Jr. Comovente ver a mãe de Renato falando sobre o filho e os seus olhos brilhando. Não sabia - ou não me lembrava - do seu problema de saúde durante a adolescência, que fez com que ele tivesse que viver um bom tempo de cadeira de rodas e amuletas. A vantagem desse período, como sua própria mãe disse, foi que foi uma fase extremamente proveitosa para Renato, bastante produtiva no que se refere aos estudos, ao fato de ele ler muitos livros e ouvir muitos discos. Esse período de reclusão de Renato foi responsável para a formação de sua personalidade e para o seu maior enriquecimento espiritual. Lembrei de John Ford e Frida Kahlo, que passaram por situações dolorosas desse tipo e se tornaram grandes artistas.

O ator que interpreta Renato no programa chama-se Bruce Gomlevsky. Achei meio estranho vê-lo nas cenas de dramatização e não gostava quando ele cantava. Mas como não existe nenhum registro de vídeo do Renato cantando "A Via Láctea" (se existe, desconheço), então até que foi válida a dramatização. O ator é o mesmo que interpretou o músico na peça "Renato Russo - A Peça". Alguns dos momentos mais bonitos do programa lidam com a relação de Renato com sua mãe, como na cena em que ele passa os cuidados de seu filho para ela ou quando ele se revela homossexual. Outro ponto positivo do programa está no fato de não esconderem o quanto Renato era uma pessoa difícil de se relacionar, principalmente na fase em que o alcoolismo o consumia. Não há a intenção de transformar Renato Russo num santo ou algo parecido. Muitas da suas falhas são mostradas.

No mais, quando o programa termina, somos lembrados mais uma vez do grande artista que perdemos. Lembro que quando eu comprei o disco "o descobrimento do brasil", ao ouvir canções como "Vinte e Nove" e "Vamos Fazer um Filme" ou "Só Por Hoje", eu tive a certeza de que ele nunca faria um disco ruim em toda sua carreira. E se por acaso ele não estivesse com inspiração para compor, com certeza, um disco de covers como as constantes no maravilhoso "Stonewall Celebration Concert" seria um presente e tanto para os fãs. Infelizmente, "os bons morrem antes".

P.S.: Imperdível a apresentação da Legião Urbana no programa Chico e Caetano. Tanto pela apresentação meio enrolada do Caetano quanto pela dança do Renato :)

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