domingo, outubro 19, 2003

PECADOS DE GUERRA (Casualties of War)



Depois do bom bate-papo que rolou entre o Daniel the Walrus, o Leandro César e este que vos escreve lá nos comentários do filme VIOLAÇÃO DE CONDUTA, fiquei tão entusiasmado que tive de procurar imediamentamente a fita de PECADOS DE GUERRA (1989), um dos poucos filmes do DePalma que eu não tinha visto ainda. O próprio Reichenbach considerou este o seu DePalma preferido numa de suas colunas. Então, por que diabos eu não tinha visto ainda?

Eu tinha acabado de ver um filme nacional um pouco chato chamado FELICIDADE É...(que comento logo abaixo) e ao pôr o vhs do filme do DePalma logo em seguida é que eu percebi que não é qualquer um que sabe fazer cinema não. A primeira cena do filme, com Michael J. Fox, meio que dormindo num metrô, já impressiona. Olha que é uma cena simples, que não contribui tão fortemente para a trama. Mas as imagens que ele extrai de sua câmera já mostram o excelente filme que virá. Ao olhar para uma moça oriental, talvez vietnamita, J. Fox se lembra de sua traumática experiência na Guerra do Vietnã. A partir daí somos jogados no inferno da guerra que fez os americanos saírem com o rabo entre as pernas.

Os americanos no filme são apresentados, em sua maioria, como sujeitos estúpidos, que não têm consciência do que estão fazendo, nem de porque estão ali. O único cara consciente é o recruta interpretado por Michael J. Fox, que irá entrar em atrito com o sargento canalha vivido por Sean Penn. Este irá manter cativa para estuprar e violentar uma jovem vietnamita. O tema já tinha sido explorado superficialmente em PLATOON (1987), de Oliver Stone, mas, além de aprofundar o tema, DePalma faz um filme bem mais poderoso do que Stone fez em toda a sua trilogia do Vietnã.

Uma das melhores coisas do filme é a trilha sonora do grande Ennio Morricone, que contribui e muito para acentuar a força das imagens. A música de Morricone é tão boa que quando termina o filme a gente fica olhando hipnotizado para os créditos que vão aparecendo. Isso sempre acontece comigo quando eu vejo grandes filmes.

Acho que o meu top 10 de filmes do DePalma acaba de ser alterado.

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FELICIDADE É...

Peguei esta fita na locadora apenas por causa de um nome: Jorge Furtado. Até então não tinha visto nenhum filme fraco de Furtado. Seja curta ou longa-metragem. Dos curtas, vi os ótimos ILHA DAS FLORES e O SANDUÍCHE. Dos longas, os excelentes HOUVE UMA VEZ DOIS VERÕES e O HOMEM QUE COPIAVA. Sem falar no filme feito pra televisão LUNA CALIENTE e na participação na mini-série A INVENÇÃO DO BRASIL. Tudo muito bom. Logo, não deve existir filme fraco do Furtado, certo? Errado. Seu curta "Estrada" que finaliza a coletânea de curtas FELICIDADE É...(1995) é fraquinho, fraquinho. Fala sobre a sorte na vida do casal Débora Bloch e Pedro Cardoso.

O curta mais interessante da fita é "Bolo", que traz o saudoso Jofre Soares que faz um velho amargo que fica na cozinha conversando e provocando sua esposa Vanda Lacerda, que por sua vez também alfineta o velho. O curta é todo dividido em capítulos, sendo que as cenas são todas curtíssimas. Um belo trabalho que mostra a melancolia da velhice. Dirigido por José Roberto Torero.

O segundo melhor curta, apesar de um pouco monótono é "Cruz". Isso por causa da interpretação de Paulo Autran. Dirigido por A. S. Cecílio Neto.

Completa a fita "Sonho", com Denise Fraga e Cassiano Ricardo. Esse é perturbador e incômodo, especialmente quando mostra o sonho bizarro de Denise. É um alívio quando termina.

Bem irregular essa coletânea, mas a idéia é boa. Afinal, de que outra forma uma pessoa que não freqüenta festivais de cinema brasileiro vai poder conferir curtas-metragens, já que estes não passam no cinema comercial e nem na televisão comercial? Bom, tem o programa Zoom da tv cultura, mas pouca gente tem interesse em assistir.

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