quinta-feira, novembro 11, 2021

ETERNOS (Eternals)



Quando a Marvel Studios anunciou seus filmes e séries para o início da chamada fase 4 ficou claro que estávamos mesmo diante de algo muito grandioso e ousado. Não no que se refere à forma do filme e ao aspecto cinematográfico das obras. Quanto a isso, creio que Kevin Feige e os demais executivos que mandam no estúdio não têm mesmo intenção de entregar um filme a um autor e deixá-lo fazer uma obra de fato autoral. Por isso a expectativa em torno de ETERNOS (2021) era grande pelo fato de ser assinada por Chloé Zhao, a diretora chinesa vencedora do Oscar por NOMADLAND (2020) e que tem uma filmografia curta, mas já marcadamente interessada em algo próximo do documental e também do intimista.

Então, será que Zhao conseguiria imprimir sua marca em uma mega produção cheia de efeitos especiais? Será que a Marvel permitiria? Ou será que ela seria mais um autor engolido pelas engrenagens da grande indústria? A propósito, vale destacar que nem sempre se trata de muito dinheiro envolvido, já que os filmes de super-heróis da DC, na Warner, têm a cara de seus realizadores. Na Marvel, certos diretores conseguiram deixar algumas de suas marcas, como Taika Waititi, em THOR – RAGNAROK, e James Gunn, em GUARDIÕES DA GALÁXIA (2014) e sua continuação (2017).

No caso de ETERNOS, não consegui ver a assinatura da diretora, mas talvez, com um pouco de esforço, isso seja possível de visualizar. No mais, já adianto que gostei dos personagens e dos atores e atrizes (boa parte deles), gostei do visual (faltou eu ter lido os quadrinhos de Jack Kirby, mas imagino que a transição para o cinema foi bem pensada), gostei da ousadia da Marvel ao trazer personagens de seu repertório desconhecidos até de muitos leitores, gostei da pluralidade de raças para representar os eternos, sendo que o respeito às minorias também se estende à orientação sexual, forma física etc.

O problema é que o filme cansa um bocado, não por ser muito expositivo (embora isso também incomode), mas o que poderia ser o momento mais empolgante do filme, o seu clímax, é talvez o mais tedioso – nesse sentido, lembra muito o que aconteceu com SHANG-CHI E A LENDA DOS DEZ ANÉIS. E onde está o sentido de perigo, a angústia, o senso de urgência de um fim iminente ou da própria descoberta da natureza dos heróis? Tudo isso não deveria ser sentido pelo espectador? Terá sido culpa da falta de liberdade criativa que a Marvel tem deixado de conceder aos cineastas contratados, resultando em obras genéricas e sem alma? Por isso acredito que a Marvel precisa parar de se preocupar menos no big picture e focar mais em filmes como objetos individuais minimamente independentes.

Uma das dificuldades de ETERNOS estaria no quanto se trata de um projeto a respeito de um universo inteiramente novo para o cinema, e portanto é preciso que a direção e o roteiro tenham a tarefa de contar a história desses seres que estariam entre nós há séculos, mas que não poderiam interferir nos problemas dos terrestres, a não ser para defender a Terra dos deviantes, seres monstruosos vindos para matar e destruir. Era essa a função dos eternos, seres fisicamente parecidos com os humanos e com poderes individuais. Por isso a duração longa de duas horas e meia para poder contar essa história.

A Marvel aqui aposta principalmente em atores menos famosos na telona, como Gemma Chan (PODRES DE RICOS) e Richard Madden (série GAME OF THRONES), que são os protagonistas, mas também traz atrizes coadjuvantes extremamente importantes para a trama, como Angelina Jolie e Salma Hayek. Isso traz um bom equilíbrio para o elenco. Ainda que não seja o suficiente para salvar o filme, não deixa de ser mais um de seus atrativos.

O perigo, eu diria, não está nas ousadias da Marvel em trazer heróis quase desconhecidos do grande público (isso até pode funcionar como propaganda e apresentação para os iniciantes nos quadrinhos), mas em não se preocupar mais com a qualidade de seus filmes individualmente. Por mais que os fãs continuem lotando os cinemas e vendo as séries lançadas agora no streaming próprio, até quando essa fidelidade resistirá a filmes medianos?

+ DOIS FILMES

VENOM - TEMPO DE CARNIFICINA (Venom - Let There Be Carnage)

Há filmes que nos deixam sem palavras. É o caso desta sequência de VENOM (2018), a primeira aventura do anti-herói bocudo e que está mais para um encosto do que para um alienígena. Venom tem ganhado popularidade nos quadrinhos desde sua criação, nos anos 1990. Mas o caso de eu ter ficado sem palavras em VENOM – TEMPO DE CARNIFICINA (2021), dirigido por Andy Serkis, foi pelo fato de ver um desses trabalhos tão ruins que nem o melhor dos montadores do mundo conseguiria fazer milagre na sala de edição para que ele se tornasse meramente assistível. Nem mesmo a intenção de transformá-lo numa comédia funciona, já que as piadas não têm a menor graça. E aí a gente percebe que a Michelle Williams está no filme! Uma das melhores atrizes de sua geração! E o diretor de fotografia é o grande Robert Richardson, conhecido por seus trabalhos com Tarantino e Scorsese. O que fazem essas pessoas tão boas numa produção tão tosca? Qual seria a história por trás da criação deste filme? Muitos dizem que a finalidade deste filme foi garantir uma cena pós-créditos atraente. Sério?! A que ponto chegamos no grau de industrialização de produtos "Marvel" para que produtores e artistas comprometam suas reputações? É a força do dinheiro que ergue e destrói coisas belas, como diz o Caetano.

PATRULHA CANINA - O FILME (PAW Patrol - The Movie)

Filme que vi com meu sobrinho de dois anos. E engraçado que ele já conhecia os personagens, tem brinquedos e coisas a respeito da franquia, que já existe desde 2013 na televisão e eu não sabia da existência. Tecnicamente, PATRULHA CANINA - O FILME (2021), de Cal Brunker, é uma animação bem realizada, mas falta alma na construção da trama e dos personagens e, por mais que seja muito interessante a questão do medo e da insegurança de um dos cachorrinhos do grupo, a estrutura de "missão a cumprir" é tão clara que já sabemos o quanto falta para o filme acabar. Outra coisa curiosa é notar o quanto a gente está acostumado a fazer comparações com o nosso ambiente político. O inimigo da história é um prefeito que tem em seu plano de governo destruir a arte, a cultura e ainda prender todos os cachorros. Fica difícil não lembrar de um certo governante.

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