segunda-feira, julho 11, 2016

MADAME BOVARY



Na virada dos anos 2011 para 2012 eu tive o prazer de conhecer o romance Madame Bovary, de Gustave Flaubert. Foi um livro que me pegou de um jeito tão forte que eu tomei as dores de Emma, a jovem protagonista cheia de defeitos, mas também cheia de anseios e frustrações. Por que a vida teria que ser do jeito que a sociedade a define? Tudo bem que não é lá muito bonito sair traindo o marido por aí, mas esses julgamentos vão ficando cada vez mais de lado. E o próprio destino da heroína acaba não sendo dos mais felizes, o que não é novidade em romances que lidam com o tema do adultério.

Mais ou menos nesta época também li um capítulo de um livro de Robert Stam, A Literatura através do Cinema, sobre literaturas que anteciparam a linguagem cinematográfica. Madame Bovary é um desses casos. E também foi nesta época que quis ver todos os filmes disponíveis que foram adaptações do clássico de Flaubert. Assim, me deparei com obras dirigidas por Jean Renoir (1933), Vincente Minnelli (1949), Hans Schott-Schöbinger (1969), Claude Chabrol (1991), Ketan Mehta (1993) e Manoel de Oliveira (1993). A maioria é de filmes muito bons.

Passadas algumas décadas, entra em cena uma nova adaptação da história de Emma, MADAME BOVARY (2014), da americana Sophie Barthes. O curioso neste filme é o quanto a personagem parece ser tão destituída de nuances, ficando muito fácil julgá-la como irresponsável e traidora, por mais que não tenha sido essa a intenção da obra literária e as demais adaptações cinematográficas tenham sido felizes em dar complexidade a Emma.

Pra começar, a diretora e o seu roteirista (que aqui aparece com um pseudônimo feminino) preferem começar o filme do ponto de vista de Emma mesmo, deixando de lado o ponto de vista inicial do médico Charles, em sua vontade de desposar a bela jovem. Até aí tudo bem, mas a coisa começa a ficar bem problemática quando o personagem do alfaiate, vivido por Rhys Ifans, se torna mais importante que os amantes da protagonista. Ele é o grande vilão do filme e as cenas em que ele inicialmente tenta a personagem com as roupas em vendas a crédito para depois procurar destruir sua vida ganham tanto espaço que acabam por sufocar a trama, que deveria privilegiar as paixões proibidas de Emma por outros homens que não fossem o seu marido.

Charles aparece até como um esposo quase ideal, em sua bondade, tornando o julgamento de Emma ainda mais fácil, por parte do público. Não deixa de ser estranho para um filme dirigido por uma mulher, que poderia aproveitar para fazer uma obra mais feminista. Ou talvez a obra literária já tenha nascido feminista à sua maneira, quando Flaubert chegou a ir à corte por causa dos escândalos que o seu romance causou, e ele disse a famosa frase "Emma Bovary sou eu", quando os juízes o perguntaram quem teria sido o modelo da personagem.

No mais, é uma pena que uma atriz talentosa como Mia Wasikowska tenha se envolvido em um projeto tão fraco. Talvez o convite tenha chegado a ela pelo fato de ela estar em outros filmes de época mais bem-sucedidos. Sem falar no fato de ser também um dos maiores destaques entre as atrizes de sua geração. Mas, como não depende só dela o sucesso dos filmes, mas principalmente de seus realizadores, há sempre riscos.

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