sábado, julho 16, 2016

JANIS – LITTLE GIRL BLUE



Incomoda bastante no documentário JANIS – LITTLE GIRL BLUE (2015) o modo como a diretora Amy J. Berg expõe de maneira tão enfática a dor e a solidão de Janis Joplin, tanto através das letras das canções, simples, mas que sempre falavam da falta de alguém ou de relacionamentos em geral. Inclusive, há uma cena em que Janis fala, antes de começar a cantar "Cry baby", sobre o caso recente que teve do sujeito que ela conheceu no Brasil e que resolveu ir embora porque não aguentava vê-la envolvida com heroína. O fato de ela dizer, pra todo mundo ouvir, que estaria ali esperando por ele é tocante, mas ao mesmo tempo incômodo.

As entrevistas que ela dava à imprensa também não ofereciam muita coisa. Demonstrava mais sua insegurança e os repórteres sabiam disso e tocavam na ferida. Assim como iam buscar nos dias ruins de escola e faculdade, quando ela sofria bullying por ser diferente e estar fora dos padrões de beleza vigentes naquela cidadezinha do Texas que ela preferiu deixar pra trás em busca da alegria de ser uma grande cantora em San Francisco e além. E isso ela conseguiu em bem pouco tempo, quando integrou a Big Brother Holding Company. Ela acabou ficando maior do que a banda e se lançou em carreira solo depois de poucos discos com sua primeira banda.

A relação com as drogas passa um certo ar de déjà vu, já que vimos algo parecido em outros documentários recentes e superiores sobre outras cantoras fantásticas: AMY, de Asif Kapadia, e CÁSSIA ELLER, de Paulo Henrique Fontenelle. Comparado a estas duas obras, o filme sobre Janis fica até pequeno, tanto porque sua história de vida não é tão bem explorada, quanto pelas imagens de arquivo não serem suficientemente ricas. Ao menos as cartas de Janis, vez ou outra, funcionam como um elemento pessoal bem-vindo.

Ao enfatizar o lado bem pessoal de Janis, acaba faltando espaço para que o documentário explorasse um pouco mais a força de sua música, mais canções de destaque. As únicas que mereceram espaço no documentário – e merecidamente, por serem lindas – foram "Summertime", que tem aquele solo de guitarra maravilhoso e uma interpretação fantástica de Janis, numa reinvenção genial do clássico de George Gershwin, e "Me and Bobby McGee", composição de Kris Kristofferson e Fred Forster, já da última fase da cantora, quando ela conheceu um produtor que soube ensiná-la a trabalhar melhor o vocal. Por isso é uma canção menos gritada e mais sutil.

No mais, não há como não ficar comovido com o caso do telegrama ao final do filme, o que mostra mais uma dessas histórias de que o amor está prestes a bater à sua porta, mas às vezes não temos paciência e botamos tudo a perder. E, no caso dela, então, é de se lamentar mesmo. Morrer é fácil. Viver é que é difícil.

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