quinta-feira, junho 16, 2016

MEU REI (Mon Roi)



O amor, a paixão, o desejo, a sensação de estar perdendo ou sendo deixado de lado, aguentar todas as oscilações de humor e de interesse (ou falta de) da outra pessoa, tudo isso e mais um pouco é posto no liquidificador de emoções que é MEU REI (2015), quarto longa-metragem dirigido por Maïwenn. Depois do sucesso do drama POLISSIA (2011), a atriz e diretora foca nas alegrias e principalmente nas dores geradas por um relacionamento complicado.

O filme começa com o acidente e o posterior internamento para tratamento do joelho de uma mulher chamada Tony (Emmanuelle Bercot, prêmio de melhor atriz em Cannes-2015), que passa a lembrar de sua vida a partir do envolvimento que teve com Georgio (Vincent Cassel), um homem que tinha o hábito de se relacionar com modelos e ter um padrão de vida bem alto, mas que por algum motivo parece se interessar por ela, uma pessoa de vida “normal”. No envolvimento, ele quis e consegue ter um filho com ela.

O trabalho de Maïwenn é admirável, no quanto consegue em pouco mais de duas horas mostrar anos do envolvimento afetivo do casal, a partir dos momentos felizes do início da relação, passando pelas crises e pela quase perda da sanidade por parte da mulher. O mais interessante é que MEU REI é o tipo de filme que acaba trazendo à tona muitas lembranças pessoais a vários espectadores que vivenciaram situações semelhantes e que não demoram a se colocar nos sapatos de Tony. Um pouco menos nos de Georgio, já que ele é a peça misteriosa e responsável pelo sofrimento da mulher nas crises.

Mas o mais bonito de tudo é que a diretora não o pinta como um vilão, e na verdade ele não é. Os personagens têm tonalidades de cinza que acentuam tanto seus defeitos quanto suas qualidades. Georgio é, por exemplo, um sujeito fácil de ser admirado pelas mulheres, pela sua autoconfiança natural , pelo seu charme, enquanto Tony, com seu aspecto de mulher normal e sem atributos físicos de modelos, é mais fácil de causar identificação no espectador ao longo da trama.

No duelo de interpretações quem sai ganhando é Bercot, cuja personagem muda ao longo dos anos, com o desgaste do relacionamento e de suas emoções, enquanto Cassel vive praticamente o mesmo homem do começo ao fim, apesar de ter um ou outro momento de mudança. Mesmo quando ele confessa que é viciado em drogas, por exemplo, o espectador, assim como a própria Tony, duvida dele. É um dos momentos mais interessantes do filme justamente por isso, já que Cassel encarna um típico cafajeste com muita facilidade, e por isso é tão difícil acreditar que o seu choro é sincero.

As cenas alternadas de Tony na clínica de reabilitação funcionam como momentos de triste paz para um filme que se caracteriza pelos atritos e pela perturbação emocional. Maïwenn, inclusive, faz tudo isso com muita crueza, evitando fazer um filme feito para chorar e ser esquecido. Ao contrário, enquanto o choro fica preso na garganta, o filme vai crescendo na memória. A belíssima cena final é uma prova da grandeza de MEU REI entre as produções francesas recentes e da capacidade da cineasta em falar de amor e desilusão como poucos.

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