quarta-feira, junho 01, 2016
A ASSASSINA (Nie Yin Niang)
Não é um filme fácil, no sentido de quem quer estar seguro em acompanhar o enredo tão intrincado e as motivações dos personagens. A ASSASSINA (2015), no entanto, é um dos filmes mais belos dos últimos anos, e cuja oportunidade de ver no cinema é um presente para cinéfilos, especialmente quem já acompanha ao menos um pouco a carreira do talentoso cineasta chinês Hou Hsiao-Hsien. Seu último longa-metragem e primeiro lançado comercialmente no Brasil havia sido A VIAGEM DO BALÃO VERMELHO (2007).
Como Hsiao-Hsien é um cineasta que privilegia a encenação e o movimento dos atores no quadro, há todo um cuidado em tratar com ainda mais delicadeza o gênero wuxia, que já havia sido apropriado de maneira bem bonita por cineastas distintos e talentosos como Wong Kar-Wai, Ang Lee e Zhang Yimou. O problema é quando se tenta comparar o trabalho de Hsiao-Hsien com o dos outros, já que quase sempre as lutas são interrompidas bruscamente, não dando tempo para que o aficionado por artes marciais vá se empolgar.
Por isso A ASSASSINA deve ser aceito como é: um drama que prestigia muito a direção de arte, a fotografia e os figurinos, e que deixa o espectador tão encantado com o que vê ou deixa de ver que mal dá tempo de reclamar do comportamento dos personagens e de seus dilemas morais ou sentimentais. No caso, o grande dilema é o da personagem título, Yinniang, interpretada por Shu Qi, uma assassina habilidosa mas com um coração que a impede de matar um homem por ele estar na presença de seu filho pequeno.
Como forma de puni-la, sua mestra a envia para o lugar onde Yinniang nasceu, a distante província de Weibo, a fim de matar o governador local, primo dela, que deveria ser o homem com quem ela teria se casado. O filme não facilita na hora de explicar os detalhes do passado da assassina e desse homem, embora faça isso à sua maneira. Talvez uma maneira um pouco complicada para a mente ocidental, mas acostumada a uma narrativa quase didática.
Há quem vá achar, inclusive, o filme vazio em sentimento, embora o mais adequado seja revê-lo para tentar captar mais sua essência e os valores desses personagens. Há também que atentar para o quanto o cineasta evita sequências de morte e violência, com cenas de luta interrompidas sem entendermos bem o porquê. Yinniang perscruta do jeito que quer, como um fantasma cujas paredes não são obstáculo, a mansão do governador e de sua família, e nesses momentos há muitas cenas com um véu cobrindo a tela, mostrando o olhar da protagonista em câmera subjetiva.
O filme também carrega uma característica bem comum do wuxia, que é a harmonia do homem com a natureza, que aqui aparece com uma beleza estupenda. Mas Hou Hsiao-Hsien prefere contar uma história longe da grandiloquência dos demais filmes do gênero. Chamar de simplicidade o que ele faz também seria um erro, até pelo esmero com que o diretor opera suas imagens. Por isso a experiência de ver A ASSASSINA é algo um tanto difícil de ser externado em palavras.
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