quinta-feira, junho 30, 2016

JOHNNY SUEDE



Ler a entrevista de Tom DiCillo sobre a realização de seu primeiro longa-metragem como diretor, JOHNNY SUEDE (1991), é acompanhar a trajetória de um quase desastre, por mais que no meio de tudo haja os momentos bons, como o fato de o filme ter sido aceito e ainda tenha ganhado o prêmio principal do Festival de Locarno. Mas isso só aconteceu depois de ele ter sido rejeitado em Cannes. E depois de Locarno houve todas as frustrações relativas ao lançamento comercial, a relação com os Weinsteins etc.

Essa entrevista pode ser lida no livro My First Movie, organizado por Stehen Lowestein. Já tinha lido a entrevista dos irmãos Coen, sobre a realização de GOSTO DE SANGUE, mas a trajetória dos Coens teve um final feliz. Já DeCillo teve tantas frustrações e até mesmo sabotagens dentro de membros da equipe com quem trabalhou (um diretor de fotografia filmava errado de propósito, por inveja do diretor), que a gente até entende o fato de ele ter parado de fazer filmes de ficção para cinema desde DELÍRIOS (2006). Além do mais, seu segundo longa foi um filme sobre as frustrações de um diretor, com jeitão autobiográfico, VIVENDO NO ABANDONO (1995).

JOHNNY SUEDE foi o primeiro filme com Brad Pitt como protagonista. Na verdade, ele até fez alguns trabalhos antes, mas nada que possa ser lembrado. O seu boom aconteceu com THELMA & LOUISE, de Ridley Scott, filmado no mesmo ano. Como o filme de Scott teria uma visibilidade maior, por ser uma grande produção de um cineasta já estabelecido em Hollywood, o filme de DeCillo pegaria carona nele. E Pitt já era tratado como astro no set, embora o diretor tenha se aborrecido com ele durante as gravações e não tenha ficado exatamente satisfeito com sua interpretação.

Curiosamente, a voice-over do narrador que apresenta o personagem só foi feita por causa dos vários cortes na edição, mas eu particularmente gosto dessa narração. Passa um ar de filme da velha Hollywood, e por isso sinto falta quando essa voz deixa de aparecer ao longo do filme e só é retomada mais à frente. Mas eu diria que o tempo do filme é bem próprio e agradável, além de ter um visual sujo, mas ao mesmo tempo muito bem cuidado, como numa pintura. Pode não ser aquele filme que você sai divulgando para os amigos, mas vê-lo faz bem. Até pelas cenas com Catherine Keener, que está linda, como um dos interesses amorosos de Johnny. Gosto muito da cena em que ela dá um banho nele em uma banheira. A gente quer uma namorada carinhosa assim. E além de tudo, muito disposta a ensinar as coisas que o cara deve saber para fazer uma mulher feliz na cama.

Na trama, Johnny é um sujeito que se veste de maneira bem excêntrica, com um topete bem grande e uns sapatos de veludo que caem do "céu" e que se tornam algo muito especial para ele. Ele tem uma fascinação por uma moça que vive com um homem mais velho, mas a relação dos dois é um tanto conflituosa. Johnny também tem um ar muito inocente e isso passa algo de positivo para o personagem. O que incomodou o diretor foi o fato de alguns expectadores não aceitarem seus erros, como se o personagem tivesse que ser o tempo todo um herói.

Depois de ver JOHNNY SUEDE e de ler a entrevista do diretor, dá vontade de ver VIVENDO NO ABANDONO e se solidarizar com o sofrimento por que passou DeCillo na realização de seu primeiro trabalho.

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