sábado, abril 30, 2016
CAPITÃO AMÉRICA – GUERRA CIVIL (Captain America – Civil War)
A direção de CAPITÃO AMÉRICA – GUERRA CIVIL (2016) teria que ser mesmo dos irmãos Anthony e Joe Russo, que fizeram tão bonito em CAPITÃO AMÉRICA 2 – O SOLDADO INVERNAL (2014), impondo mais dramaticidade e seriedade em uma série de filmes cujo humor tem predominado e nem sempre tem se mostrado eficiente – a melhor e mais feliz exceção é HOMEM-FORMIGA (2015), de Peyton Reed, que tinha mesmo a intenção de entrar com mais força por esse território, mas sem destoar do conjunto.
Em CAPITÃO AMÉRICA – GUERRA CIVIL, desde já um dos melhores filmes dos estúdios Marvel, o humor se equilibra bem com o drama. Afinal, desde o começo, com uma missão de parte dos Vingadores em uma cidade da Nigéria que acaba terminando em tragédia, o mundo como um todo e também o Governo dos Estados Unidos passam a exigir do grupo uma legalidade. Até porque essa não foi a única perda de vários civis vítimas de lutas entre os super-heróis e seus inimigos.
O trabalho dos irmãos Russo é meio que um filme dos Vingadores: preferiram não perder de todo as piadinhas características do maior grupo de heróis da Marvel. Até porque o filme ia trazer também o Homem-Aranha, em acordo acertado com a Sony, e como o "amigão da vizinhança" luta fazendo piadas, eis que teríamos mais um motivo para que o humor se fizesse presente. Aliás, que baita bônus a participação do Aranha, hein. E Marisa Tomei como Tia May é uma coisa difícil de aceitar, por ser muito nova, mas tudo bem.
Anthony e Joe Russo se mostraram muito fãs do Universo Marvel, ao incluir várias referências que talvez só os fãs dos quadrinhos perceberiam, como a nação Wakanda, Sharon Carter, a prisão Balsa, o Barão Zemo, o Ossos Cruzados, a joia do infinito etc. E tudo muito bem interligado com os filmes dos Vingadores, do Capitão América, do Homem de Ferro e do Homem-Formiga. Então, é já uma posição perfeitamente consolidada e de bastante sucesso, que talvez só esteja esperando para uma obra-prima de verdade no currículo, mas nem sabemos se a Marvel quer isso: que um grande autor venha se intrometer de modo a ofuscar o bom andamento das realizações.
Apesar disso, é sempre bom lembrar que o estúdio tem procurado diretores que julgam ideais para certas produções, como um cineasta de filmes de horror como Scott Derrickson para o vindouro filme do Doutor Estranho, ou terem escalado um cineasta que já filmou Shakespeare para o primeiro filme do Thor (2011) e um diretor da série GAME OF THRONES, Alan Taylor, para THOR – O MUNDO SOMBRIO (2013), dois filmes, aliás, que representam pontos baixos na lista de títulos da Marvel, mas isso não vem muito ao caso. Deslizes são inevitáveis.
Quanto a CAPITÃO AMÉRICA – GUERRA CIVIL, trata-se de uma obra que é devedora direta da minissérie Guerra Civil, de Mark Millar e Steve McNiven, que marcou bastante os quadrinhos americanos dos anos 2000 e que repercutiu em vários outros títulos da Marvel (Vingadores, Homem-Aranha, Capitão América etc.). A guerra civil nos quadrinhos fez valer esse título mesmo, de verdade, com dezenas, talvez centenas de super-heróis se digladiando e fechando com uma tragédia.
Já no filme, seria impossível fazer algo próximo disso, já que com uma duração de menos de três horas mal dá para administrar doze super-heróis em luta, e ainda tendo que apresentar o Pantera Negra para a audiência. Inclusive, a luta dos doze heróis foi filmada em IMAX e isso é percebido com a mudança da razão de aspecto da tela e da melhor qualidade de imagem. (Lembrando que, apesar da beleza do IMAX, o 3D convertido dos filmes da Marvel continua fajuto e caça-níquel.)
Pena que no fim dessa luta tudo pareça uma mera brincadeira. Eficiente e divertida, mas que falta mais dramaticidade e motivos mais fortes para que aqueles grupos entrassem em conflito. Porém, como vivemos atualmente numa sociedade também dividida, é até natural que esse tipo de coisa aconteça, por mais que as razões pareçam um tanto nebulosas.
A luz que se oferece está na figura do Soldado Invernal. Se o ator Sebastian Stan não tem o mesmo carisma dos demais, seu drama é o mais trágico. Apesar de estar sob controle dos inimigos, ele se sente culpado por ter executado tantas vidas inocentes sob o comando dos terroristas. E, no fim, é ele o principal eixo pelo qual GUERRA CIVIL gira em torno, embora isso não tire o protagonismo do Capitão América e do Homem de Ferro, vividos por atores cada vez mais à vontade em seus papéis.
Um dos grandes méritos do filme é nos convencer mais uma vez da força desses heróis, no que eles são capazes. O Capitão América não é só um sujeito forte com um escudo, como bem mostrado já no primeiro filme solo do herói, de 2011. Assim como a Viúva Negra e o Gavião Arqueiro compensam suas faltas de superpoderes com grande força física e agilidade. E tudo é muito bem coreografado durante as lutas. Talvez só a Feiticeira Escarlate destoe dos demais por ter um poder ainda difícil de compreender para quem nunca leu a minissérie Dinastia M, mas o filme apresenta um bocado de seu incrível poder numa cena dela com o androide Visão.
CAPITÃO AMÉRICA – GUERRA CIVIL é um filme mais de grandes e memoráveis momentos soltos do que exatamente por se constituir um conjunto coeso e eficientemente emocionante, especialmente na parte mais dramática, envolvendo uma ação executada pelo Soldado Invernal em 1991. É um dos momentos que mais podem levar o espectador às lágrimas. E isso não é pouco em se tratando de um estúdio que não tem muitas pretensões de transformar seus filmes em dramas pesados ou muito sérios, como os de sua maior concorrente. Por enquanto a fórmula tem funcionado. Que continuem oferecendo belos trabalhos como esse, então.
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