quarta-feira, abril 13, 2016

DE ONDE EU TE VEJO



O novo filme de Luiz Villaça, DE ONDE EU TE VEJO (2016), já começa dando um nó na garganta do espectador, fazendo com que nos solidarizemos facilmente com o drama daquele casal que esteve junto há 20 anos, mas que agora está se separando amigavelmente. E enquanto esse sentimento de melancolia permeia o filme, alimentado ainda mais com a notícia da iminente partida de sua única filha para outra cidade para fazer faculdade, ele se mantém tão triste quanto belo.

Mas, brasileiros que somos, temos a mania de fazer festa até nos momentos mais sérios, e entra em cena o clima de comédia, que contamina e diminui um pouco as qualidades da obra, embora a torne mais leve – não se sabe o quanto o filme resistiria se adotasse um tom depressivo do início ao fim, embora os diálogos espirituosos dos dois protagonistas ajudassem um pouco a levantar os ânimos. Lembrando que Denise Fraga já tem um histórico bem considerável de obras que mais pendem para a comédia – quase ninguém viu o drama HOJE, de Tata Amaral, por exemplo, enquanto todo mundo se lembra do papel dela em AUTO DA COMPADECIDA, de Guel Arraes.

Em DE ONDE EU TE VEJO, Denise é Ana Lúcia, uma arquiteta que trabalha procurando prédios antigos e quase abandonados para transformar em lugares mais modernos. Ela tem uma tendência em acreditar em coisas mais ligadas ao esoterismo, como astrologia, feng shui, pensamento positivo etc. Enquanto isso, seu (ex-) marido, Fábio (Domingos Montagner), é um jornalista pragmático, embora abrace com muito carinho as crenças e manias da mulher. Do mesmo modo, com tantos anos juntos, ele também tem manias que só sua mulher entende, como o fato de ele nunca ter aprendido a dar um nó na gravata.

O momento de mudanças para os dois não parece nada feliz: a filha adorável, que é um elo para os dois, indo embora; os prédios históricos da cidade fechando (ainda que isso seja bom para a arquiteta); demissões em massa nas redações, em momento de morte do jornal de papel etc. O fato de o marido se mudar justamente para um prédio em frente ao da esposa também não ajuda muito a desatar os laços. Mas isso ajuda a criar momentos interessantes para a trama, principalmente enquanto comédia, embora vá fornecer subsídios também para alguns momentos dramáticos.

Algumas participações especiais ajudam a tornar DE ONDE EU TE VEJO memorável. Como não ficar emocionado com o depoimento de Juca de Oliveira sobre a importância do Cine Marabá em sua vida, quando ele fala, com os olhos brilhando, do dia em que conheceu sua esposa? Ou de como é mágico sair do cinema e dar de cara imediatamente com a rua? E temos também Laura Cardoso, como a velhinha que cuida de pássaros, que se mostra feliz com a rotina simples, e que de vez em quando solta umas indiretas para a arquiteta sobre como lidar com a vida. Ou Fúlvio Stefanini, como o simpático dono de uma pizzaria que serviu de espaço para vários aniversários de casamento de Ana Lúcia e Fábio.

A geografia de São Paulo é também um elemento que conta pontos a favor do filme, principalmente para aqueles que têm amor pela selva de pedra brasileira. Os momentos de dor de Fábio também são bastante tocantes, mostrando-nos uma obra sensível e avessa a estereótipos de gênero. O filme só peca em tentar ser certinho em sua estrutura, com um final que o torne redondo e inteligente e procurando resgatar o clima mais melancólico de seu início e não sendo bem-sucedido com isso. Mas, ao que parece, esse final já fazia parte do plano. Acontece que tem certas coisas que funcionam melhor quando não são planejadas.

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