terça-feira, março 18, 2014

ALEMÃO



Há filmes que crescem na memória, mesmo não agradando muito durante a exibição. Há outros que têm um efeito contrário: têm seu valor diminuído ao longo do tempo. Talvez seja o caso de ALEMÃO (2014), de José Eduardo Belmonte, um thriller sobre cinco policiais infiltrados no Complexo do Alemão pouco antes da invasão das forças armadas, em 2010.

O filme tem os seus méritos e um deles é o fato de Belmonte ter conseguido filmar tudo em apenas 18 dias. Ao contrário do que se imagina, ao pensar em um tema de grande porte como esse e em produções maiores como os dois TROPA DE ELITE e CIDADE DE DEUS, o filme de Belmonte é um exercício de como economizar, coisa que ele já estava acostumado a fazer em suas produções independentes anteriores.

ALEMÃO foi um filme de encomenda. E o diretor chegou a pensar se aceitava ou não o convite do produtor Rodrigo Teixeira, já que o tema não lhe é tão íntimo. Mas depois disse que começou a se sentir à vontade com o filme, e que buscou inspiração em produções clássicas hollywoodianas, em especial, westerns.

Mas, ainda que o filme seja envolvente, há de fato problemas na criação dos personagens, que são mostrados de maneira muito superficial. Curiosamente, um dos personagens mais bem cuidados é o de Otávio Müller, que interpreta o Doca, o dono da pizzaria, que também é um policial infiltrado. É em sua pizzaria que a maior parte da história transcorre, com os cinco policiais acuados pelos traficantes, que descobriram suas identidades. O delegado vivido por Antônio Fagundes é outro personagem que também não gera uma carga dramática que deveria, embora a cena com o filho (Caio Blat) cause alguma emoção.

Há outro problema que pode incomodar um pouco, que é o uso de câmera tremida e/ou muito próxima, mas isso é algo que pode ser relevado, até por não ser algo constante. E durante o clímax toda a confusão que ocorre no duelo final é também perdoado, por Belmonte adotar um estilo curto e grosso, sem muito sentimentalismo, na hora do brutal tiroteio. Pena que dura pouco tempo.

Ainda que pareça se preocupar mais em ser um eficiente filme de gênero, há um cuidado especial em tratar de questões humanitárias. O filme se concentra no embate entre policiais e traficantes (chefiados por Playboy, personagem de Cauã Raymond), mas há sequências que valorizam a comunidade, as pessoas de bem que moram naquele lugar e que têm suas vidas perturbadas com aquela situação. As imagens de arquivo que são mostradas no final não negam a responsabilidade social de Belmonte.

Como thriller, fica mesmo a sensação de que poderia ser melhor. Talvez Belmonte não fosse o diretor ideal para o projeto, por mais que tenha filmes bem interessantes no currículo. É quando pensamos em SE NADA MAIS DER CERTO (2008) e vemos que há pontos em comum entre os dois filmes. A diferença é que em SE NADA MAIS DER CERTO há espaço para trabalhar de maneira intimista o drama dos personagens. Em ALEMÃO, com o interesse em tornar tudo muito rápido e dinâmico, esse desenvolvimento dos personagens acaba se perdendo bastante. Mesmo assim, trata-se de um trabalho que merece atenção.

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