sexta-feira, dezembro 13, 2013
UM ESTRANHO NO LAGO (L´Inconnu du Lac)
Talvez tenha sido exagero por parte da revista Cahiers du Cinéma eleger UM ESTRANHO NO LAGO (2013), de Alain Guiraudie, como o melhor título lançado na França em 2013. Porém, exagero ou não, trata-se de um filme que merece sim ser conferido, até mesmo por aqueles que têm certa resistência a filmes que mostram homens se beijando, para dizer o mínimo, já que UM ESTRANHO NO LAGO é daqueles filmes raros, que normalmente só são vistos em festivais underground ou disponibilizados para download na internet. Mas quis o destino que o filme alcançasse o nosso circuito comercial, ainda que restrito ao gueto do circuito de arte. Que, de qualquer maneira, é o seu lugar.
A trama se passa em um lago que serve de ponto de nudismo para homossexuais que procuram um parceiro sexual. O protagonista é Franck (Pierre Deladonchamps), um rapaz que volta a frequentar o tal lugar, depois de um tempo de ausência, e que presencia um assassinato perpetrado por um sujeito por quem ele já nutria atração, Michel (Christophe Paou). Assim, apesar de ele já saber que ele matara afogado o ex-namorado, Franck não resiste às suas abordagens, como se o perigo fosse um atrativo ainda maior para ele.
Dentro do cinema hollywoodiano que se produzia nos anos 1940 e 1950, a figura de Michel se assemelharia a uma femme fatale. Um tipo de mulher perigosa, que pode ser vista também em neo-noirs produzidos nas décadas de 1980, como CORPOS ARDENTES, e 1990, como INSTINTO SELVAGEM. Quer dizer, há a mulher que é insuportavelmente atraente e que vira do avesso a cabeça do protagonista, a ponto de ele perder o bom senso.
Mas há também em UM ESTRANHO NO LAGO um personagem que talvez seja a alma do filme, um homem de meia idade chamado Henri (Patrick D'Assumçao), que costuma ir ao lago apenas para olhar para o horizonte. Ele não é homossexual, mas aprecia o lugar. E cria um vínculo de amizade com Franck que chega a ser comovente no momento em que ele confessa amar o novo amigo, ainda que não seja um amor com intenção de transar.
E por falar em transar, o filme é bastante ousado nas cenas que acontecem no bosque, o local onde vários homens cheios de desejo vão à caça ou já levam um parceiro para ficar mais à vontade entre os arbustos. As cenas de felação e ejaculação chegam a impressionar, já que não é algo que se veja com frequência nos filmes exibidos no cinema.
Assim, como se trata de um filme bem diferente, UM ESTRANHO NO LAGO é recomendado àqueles que querem sair da mesmice do cinema comercial e até mesmo de alguns cacoetes de certos filmes ditos de arte e se aventurar em um suspense um tanto diferente.
UM ESTRANHO NO LAGO ganhou o prêmio de direção na mostra paralela Un Certain Regard, em Cannes-2013, além da Queer Palm, dedicada a filmes com temática gay.
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