sexta-feira, setembro 28, 2012

WOODY ALLEN: A DOCUMENTARY



Podem até dizer que WOODY ALLEN: A DOCUMENTARY (2012) é um trabalho por demais louvador do trabalho e até da própria pessoa de Allen, mas não vejo nada de errado nisso. Como bem diz Chris Rock em certo momento, qual outro realizador continua tão bem durante 40 anos? Provavelmente existem outros, mas não com essa regularidade de um filme por ano. Sobre isso, Allen diz que acha interessante ter quantidade, pois dentro da quantidade, há maior possibilidade de haver qualidade. E assim obras-primas surgem em diversas épocas de sua carreira.

O filme, que passou no Festival de Cannes, mas foi exibido numa rede de televisão americana, começa contando da infância de Allen, de seus pais – ambos viveram muito: o pai até os 100 anos, a mãe morreu aos 90 -, de seus primeiros passos como escritor de humor, para depois passar para roteirista, comediante e logo em seguida para cineasta. E realmente se a gente for parar para pensar no salto que foi a passagem de seus cinco filmes iniciais, bem mais ligados ao humor físico e mais trabalhos de esquetes, para uma obra mais coesa e com maior ênfase na criação dos personagens como NOIVO NEURÓTICO, NOIVA NERVOSA (1977), dá para perceber o grau de ambição de Allen.

E em seguida, cada trabalho novo dele era uma expectativa. Em vez de continuar na comédia romântica – que lhe rendeu vários Oscar, inclusive -, ele partiu para um drama bergmaniano: INTERIORES (1978). Depois foi para um filme em preto e branco, MANHATTAN (1979). Em seguida, um filme difícil como MEMÓRIAS (1980). Depois dessas ousadias, a volta à comédia com SONHOS ERÓTICOS DE UMA NOITE DE VERÃO (1982) já mostrava um realizador e também um ator com uma carreira já estabilizada. Mas esse filme marcaria uma nova fase na vida de Allen, que foi a parceria com Mia Farrow, que passou a ser a sua musa em todas as suas obras até MARIDOS E ESPOSAS (1992), que foi feito na época do escândalo envolvendo a filha adotiva de Mia, Soon-Yi Previn.

Claro que Mia não quis saber de dar depoimento para o documentário. Em vez disso a amiga e ex-namorada e amante Diane Keaton, aparece sempre feliz e companheira. Quem aparece dando depoimento além dela e de Chris Rock é Martin Scorsese, a irmã Letty Aronson, Penélope Cruz, John Cusack, Josh Brolin, Larry David, Mariel Hemingway, Scarlett Johansson.

Quanto a Mariel, emocionante o depoimento dela. Na cena em que ela chora quando o namorado vivido por Woody Allen a deixa, em MANHATTAN, ela disse que chorou de verdade, pois aquela cena representava o fim das filmagens de um trabalho que para ela foi tão especial. E quanto a Scarlett, o documentário destaca a amizade que brotou dos dois e que rendeu três filmes. Sem Scarlett não haveria PONTO FINAL- MATCH POINT (2005), que é até agora o filme que melhor soube explorar a sua beleza e sensualidade. Muito sexy esse filme.

Pena que, ainda que o documentário seja longo, deixa de falar de alguns filmes importantes, como CELEBRIDADES (1998), O SONHO DE CASSANDRA (2007) e um de meus favoritos do diretor, A OUTRA (1988). Aliás, Allen é tão impressionantemente bom que é difícil fazer um ranking de favoritos dele, pois são muitos filmes de qualidade e de tons diferentes. Assim, do jeito que é fácil se encantar com um musical como TODOS DIZEM EU TE AMO (1996) e de achar muito engraçado um filme como TRAPACEIROS (2000), é também impactante ver obras tão sérias quanto CRIMES E PECADOS (1989) e o já citado INTERIORES.

Enfim, são muitos filmes e não adianta muito ficar citando um ou outro. O que nós, fãs de Allen, queremos é que ele continue fazendo bons e ótimos filmes até pelo menos a idade de Manoel de Oliveira para que continuemos sempre a esboçar aquele sorriso de familiaridade e de prazer ao ver a tradicional tela preta com os créditos iniciais nos preparando para mais um trabalho seu.

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