terça-feira, setembro 18, 2012

PARANORMAN



Não deixa de ser impressionante a resistência da animação em stop motion em tempos em que a computação gráfica prevalece e toma cada vez mais o lugar da animação tradicional, que praticamente deixou de ser produzida em Hollywood. É um trabalho hercúleo fotografar fotograma por fotograma os bonecos para que eles ganhem vida num processo quase tão antigo quanto a própria História do Cinema. E assim estúdios como o Laika, o mesmo que produziu CORALINE E O MUNDO SECRETO (2009), continuam existindo.

Porém, se CORALINE E O MUNDO SECRETO já tinha uma ótima base para desenvolver uma história – o livro de Neil Gaiman -, PARANORMAN (2012) surgiu de um roteiro original escrito por um dos diretores, Chris Butler. Difícil não simpatizar com a animação, que já começa com uma homenagem aos antigos filmes de horror do passado. Em poucos minutos de sua duração, logo ficamos sabendo que o protagonista, o garoto Norman, tem a capacidade de ver fantasmas. E por isso é motivo de chacota na escola e não é levado a sério nem mesmo em sua casa. As coisas mudam quando ele tem que proteger a cidade da maldição de uma bruxa.

O filme ainda tem o mérito de apresentar para o público mais jovem o caso das moças que eram executadas como bruxas pelos puritanos de Salem, no século XVII. Resta saber se, apesar de conter fantasmas, bruxas e zumbis, PARANORMAN é um filme que pode assustar o público infantil, da mesma forma que CORALINE E O MUNDO SECRETO assustou. Acredito que não. PARANORMAN segue uma estrutura bem convencional e confesso que até fiquei um pouco entediado do meio para o final do filme. Mas isso não quer dizer que não seja uma boa pedida para crianças e adultos, já que tem recebido ótimas cotações.

Comparando os dois trabalhos, nota-se que o filme da menina que encontrou pais alternativos com botões no lugar dos olhos é muito mais fácil de impressionar, já que impressionou até mesmo o público adulto. Falando nisso, esses filmes, assim como o mais recente exemplar da Pixar, VALENTE, têm em comum o fato de lidarem com o medo e serem dirigidos ao público infantil. Dependendo da idade - e da criança - eles podem causar medo, mas em geral o medo nos filmes, além de fascinante para as crianças, é bastante confortável, já que é um território seguro.

Sem falar que há toda uma tradição de canções de ninar com temas aterrorizantes e de contos de fadas perturbadores. Como não sou psicólogo, não tenho autoridade para dizer se esse tipo de narrativa, seja oral, seja audiovisual, é ou não adequada para as crianças. Mas creio que elas têm o direito de experimentar o medo na ficção desde cedo. Desde que com prudência para que não seja em excesso.