quinta-feira, setembro 06, 2012

O QUE SE MOVE



Sem dúvida um dos melhores longas-metragens exibidos em Gramado – talvez perca somente para O SOM AO REDOR, de Kleber Mendonça Filho -, O QUE SE MOVE (2012), de Caetano Gotardo, é uma experiência incomum e por isso muito bem vinda em nossa cinematografia. Primeiro longa-metragem de Gotardo, o filme consegue ser um filme de segmentos e ainda ter uma unidade orgânica. São três segmentos envolvendo mães perdendo filhos em diferentes circunstâncias. Todas as histórias foram inspiradas em notícias de jornal e algumas delas serão logo percebidas e conhecidas pela audiência.

O ideal é não saber muito das histórias e por isso não pretendo falar sobre elas aqui. Mas creio que não faz mal falar um pouco da estrutura do filme. O QUE SE MOVE se estrutura em três histórias independentes que contam com momentos musicais. As atrizes que protagonizam cada episódio – Cida Moreira, Andrea Marquee e Fernanda Vianna, esta última, vencedora na categoria de melhor atriz no Festival de Gramado – cantam os seus dramas, com muita beleza e passando a dor de seus sentimentos. Nesse sentido, Gotardo teve muita sensibilidade e cuidado para que seu filme não caísse no melodrama choroso. Se bem que eu não iria reclamar se caísse.

Mas do jeito que está o filme se torna mais respeitado por todos, inclusive pelos mais racionais, que verão traços de outros grandes autores do cinema mundial. É fácil perceber, por exemplo, Apichatpong Weerasethakul no clima inicial do primeiro segmento, que a princípio traz o filho adolescente da personagem de Cida Moreira como protagonista. Depois é que isso se inverte. Mas há todo um mistério que envolve a vida e o modo de se relacionar daquele jovem e uma moça que ele encontra numa região campestre, quando dialogam sobre o significado das coisas, muito lembrando poemas de Alberto Caeiro.

O segundo segmento também é marcado por um mistério que assombra mais o pai da criança do que a própria mãe, que aparece numa bela cena envolvendo uma criança, antes de cantar e resumir a tragédia ocorrida. Mas é o terceiro segmento que, embora possa ser visto como o mais feliz, é o que mais traz comoção, com uma performance espetacular de Fernanda Vianna. É quando vemos que a noção de perda no filme é vista de maneira bem ampla e, por isso mesmo, só tem a ganhar com essa história carregada de dor e beleza. Torçamos para que O QUE SE MOVE alcance um bom público quando estrear no circuito comercial. Certamente é um trabalho que merece todo nosso carinho.

P.S.: Confira oito destaques do Festival de Veneza, que está rolando até o dia 8. No Blog de Cinema do Diário do Nordeste. Veja AQUI.