quinta-feira, setembro 01, 2011

RICKY



De 2000 a 2010, François Ozon realizou dez longas e dois curtas-metragens, o que dá uma média de aproximadamente um filme por ano. E, no entanto, com esse curto espaçamento entre um trabalho e outro, os temas de suas obras parecem tão distintos, ainda que alguns filmes encontrem elos de ligação, como, por exemplo, 8 MULHERES (2002) e o mais recente POTICHE: ESPOSA TROFÉU (2010). RICKY (2009) é outra obra desconcertante para aqueles que tentam descobrir o mínimo múltiplo comum dos filmes de Ozon.

Difícil não escrever sobre o filme sem entregar alguns detalhes que o diretor parece não querer contar, a julgar pelo trailer enigmático e pelas fotos de divulgação que não mostram o pequeno Ricky em toda sua glória. Na trama, Alexandra Lamy é Katie, uma mulher operária, mãe solteira, que cuida de sua filha, mas que parece tão desencantada com a vida que algumas vezes é a filha que cuida dela. No trabalho, ela conhece Paco (Sergi López), um homem que despertou sua atração. Logo no primeiro encontro, eles transam no banheiro da firma. O resultado: uma gravidez. A filha de Katie é quem dá o nome para a criança, Ricky.

A criança se revela bastante chorona, o que perturba os pais, principalmente quando começam a aparecer marcas em suas costas. É a partir daí que o filme passa para um registro fantástico, embora isso já comece a ser anunciado desde o início, pelo tom adotado pelo diretor e eventualmente pela trilha sonora. Embora o filme termine de maneira brusca e pouco satisfatória, principalmente levando em consideração que seu enredo é bem intrigante e original, algumas cenas ficam bem gravadas na memória, como o momento em que Katie desce a um lago, desesperada pelo sumiço de Ricky e o vê chegando, sorrindo com suas asas enormes. Isso oferece ao filme algo de espiritual, que até então não se via de forma tão explícita na obra do cineasta. Ao voltar para casa, Katie sorri, iluminada, como se tivesse sido visitada por um anjo. E quem poderia dizer que não foi?

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