domingo, dezembro 09, 2007

TRANSILVÂNIA (Transylvania)



Vai parecer que eu estou reclamando, coisa que eu estou tentando evitar nesse espaço dedicado mais aos filmes e às séries, mas como este blog também funciona como uma "cápsula do tempo", para usar o termo usado em MY SASSY GIRL, gostaria de deixar registrado aqui um pouco das minhas insatisfações atuais. Sei que a gente sempre deve ver a vida pelo lado positivo, como aquele personagem engraçado de A VIDA DE BRIAN, mas nem sempre se consegue manter a esportiva, especialmente quando se está convivendo com perdas e insatisfações. E eu estou insatisfeito com o meu trabalho. E ao ver um grande amigo meu resolvendo sair de lá por conta própria, e não na primeira remessa dos demitidos, simplesmente por não estar mais agüentando mais tanta pressão e estresse - que pode resultar em várias doenças e ausência de vida própria -, a sexta-feira foi um dia bem triste pra mim. E esse ano está sendo o ano das demissões e das mudanças radicais na vida das pessoas, inclusive dentro do plano sentimental. E eu estou aguardando a minha mudança também. Pra melhor, claro. Estou um pouco cansado de ver o bonde passar e eu ficar parado. E falando nisso, encontrei por acaso, na última quinta-feira, uma ex-namorada minha, de 2000, a mais importante que tive, e ela, toda contente, me apresentou aos seus colegas de trabalho e me mostrou as fotos de seu filho e de seu atual companheiro. Foi um negócio bem estranho, mas eu não fiquei triste, apenas pensativo. Ok, vamos ao filme em questão, que o tempo é uma raposa (em qual filme vi essa frase mesmo?).

TRANSILVÂNIA (2006) é outro road movie um tanto quanto indigesto de Tony Gatlif, cineasta que já havia me deixado passando mal no cinema com o anterior EXÍLIOS (2004) e aquele plano-seqüência "demoníaco". Dessa vez, Gatlif entrega um filme similar - irmão, eu diria - mas bem menos perturbador e com uma atriz que eu gosto bastante como protagonista (Asia Argento). Ela é Zingarina, uma jovem mulher grávida que viaja até a "terra do Drácula" em busca do homem que ama. Ela está acompanhada de uma amiga, a francesa Marie (Amira Casar), e de uma guia turística que as ajuda a se virar naquele lugar estranho. O objetivo principal é, claro, encontrar o tal homem que se sabe que está morando ali e que trabalha como músico. O problema é que o cara fugiu dela, não foi deportado, como ela acreditava. Arrasada com a revelação, Zingarina vaga sem rumo pela região da Transilvânia, fugindo de Marie e recusando-se a voltar pra casa. No caminho, ela encontra um negociante solitário (Biron Ünel, o barbudo protagonista de EXÍLIOS). No começo do filme, na primeira vez que ela o encontra, numa festa exótica, ela diz estar ali em busca do amor; ele afirma estar em busca de dinheiro.

O filme lembra um pouco os trabalhos de Emir Kusturica, tanto pela presença dos ciganos, quanto pela música adotada na trilha sonora, daquela região da Europa. Dizem que TRANSILVÂNIA não retrata com realismo a região e seus aspectos culturais, mas isso não importa muito para o que o filme se propõe. É uma obra de ficção, não é um documentário, então não há nenhum problema com isso. E assim como EXÍLIOS, a religiosidade estranha também está presente em TRANSILVÂNIA, com destaque para a cena em que Zingarina é banhada num ritual pagão, usando uma longa veste branca. Outra seqüência memorável é a cena do parto, dentro do carro. Mesmo assim, como o filme não traz uma cena catártica como o trabalho anterior, acaba deixando de ser tão memorável quanto, embora seja um pouco mais simpático. Acho que a cena do filme que eu mais gostei foi a da fuga desesperada de Zingarina, chorando feito louca, no meio de uma floresta. No mais, a Transilvânia, do jeito que é mostrada no filme, é um lugar que eu pretendo manter distância e nunca pisar lá.

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