terça-feira, dezembro 04, 2007

A COLECIONADORA (La Collectionneuse)



Mais um Rohmer visto, dessa vez da série "Seis Contos Morais". É o segundo filme desse ciclo do diretor que vejo. Vi O JOELHO DE CLAIRE (1970) e adorei. Considero um dos melhores de sua carreira, mas a julgar por este A COLECIONADORA (1967) e o supracitado, ao que parece, os filmes desse ciclo não têm a mesma leveza dos filmes dos ciclos "Comédias e Provérbios" e "As Quatro Estações" que Eric Rohmer realizou posteriormente. Tanto O JOELHO DE CLAIRE quanto A COLECIONADORA têm um ritmo todo próprio e lidam com homens metidos a gostosões e com um ar blasé de dândis ingleses, que se vêem apaixonados ou obcecados por uma jovem. Mas falemos apenas desse A COLECIONADORA, que aparentemente parece ser um filme menor de Eric Rohmer. O que não quer dizer que não seja uma obra prazerosa e com aquele toque característico do diretor, com a sua verborragia inteligente e inconfundível, como a do começo do filme, com personagens falando sobre o conceito de beleza e sobre uma certa aversão à feiúra.

No filme, Adrien (Patrick Bauchau) é um sujeito que não faz nada da vida. É mais ou menos como o personagem de Hugh Grant em O GRANDE GAROTO, só que Adrien sente um prazer maior pelo ócio, ele não pensa em produzir ou fazer nada. Não trabalhar é um luxo que ele gosta e ele faz questão de se vangloriar disso. Adrien é também um sujeito arrogante e com amizades bastante reservadas. Na casa do amigo onde ele está passando uma temporada, aparece uma jovem de nome Haydee (Haydée Politoff), que a julgar pela quantidade de rapazes que ela leva pra cama, deve ser uma garotinha bem vulgar. Tanto que no início ele nem faz questão de se aproximar da jovem. Só mais tarde, é que a sua aproximação com a moça vai transformando o sentimento de quase repulsa em atração, obsessão até. Mas seu lado racional e cínico faz com que ele cometa atos que nem ele mesmo entende ou aceita, como entregar a menina nas mãos de um de seus colegas colecionadores de antigüidades, que ele nem gosta muito. Talvez para mostrar pra ela que ele não sente nada por ela ou não tem ciúme algum.

O filme preserva um certo mistério de Haydee, ao nos oferecer apenas o ponto de vista de Adrien. Embora ele não seja um personagem exatamente amável ou de fácil identificação por sua persona arrogante, não temos outro a quem nos apegar a não ser ele. E quem também já se arrependeu, ao cometer determinados atos em relacionamentos, tem motivos para uma maior aproximação com o personagem. Principalmente na seqüência final, quando o personagem, depois de ter experimentado a paz de estar sozinho e relativamente contente com seus passeios solitários e seus banhos de rio, fica sabendo o que é sentir a falta de alguém, de sentir aquela dor no peito pela falta de uma pessoa, como se o corpo estivesse intoxicado. Claro que nada como o tempo para curar esses pequenos males do coração, mas como dizem também que o tempo não existe, é uma ilusão, aquela sensação ruim, enquanto dura, parece que vai durar pra sempre.

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