terça-feira, julho 10, 2007

O SEGUNDO ROSTO (Seconds)



Nos anos 60, John Frankenheimer era um dos diretores mais quentes de Hollywood, tendo feito sucessos de público e crítica como O HOMEM DE ALCATRAZ (1962), SOB O DOMÍNIO DO MAL (1962), SETE DIAS EM MAIO (1964) e GRAND PRIX (1966). O SEGUNDO ROSTO (1966) foi mais um marco na carreira de Frankenheimer, ainda que não tenha sido tão bem sucedido nas bilheterias. Dizem até que depois desse filme, Frankenheimer deixou de ser o garoto de ouro de Hollywood. Talvez o público não estivesse preparado para ver um filme de horror tão anticonvencional e sombrio.

Comecei a ver O SEGUNDO ROSTO achando que se tratava de um suspense à Hitchcock, já que os créditos iniciais lembram UM CORPO QUE CAI. Os notáveis e expressivos ângulos de câmera do lendário James Wong Howe e a trilha sonora de Jerry Goldsmith que emula os melhores momentos de Bernard Hermann contribuem para esse aspecto hitchcockiano. Isso se completa com os sempre criativos créditos criados por Saul Bass, famoso colaborador de Hitchcock. Eu tive a sorte de assistir o filme sem ler nada a respeito. Assim, fui beneficiado pelas várias surpresas que O SEGUNDO ROSTO nos reserva.

Na trama, Arthur, um entediado homem de meia idade (John Randolph) passa a receber misteriosas ligações de um amigo do passado, dado como morto há vários anos. No começo, ele pensa se tratar de um trote, mas como o sujeito demonstra saber tudo sobre o passado dos dois, ele passa a acreditar e até aceita ir ao endereço que o tal amigo lhe indicou. Ao chegar lá, depois de muito mistério e muitas complicações, Arthur descobre que o tal lugar é uma empresa clandestina chamada "Seconds", que oferece a pessoas insatisfeitas com suas vidas uma chance de mudá-la radicalmente. O "cliente" seria dado como morto, faria uma cirurgia plástica para modificar suas feições e começaria a vida com uma outra identidade em um outro lugar. Apesar de ficar com medo de deixar a esposa, ele aceita dar adeus à sua vida e dar um novo rumo à sua existência. Assim, Arthur se transforma em Tony Wilson (Rock Hudson), um pintor de vida boêmia.

Um dos principais sentimentos que O SEGUNDO ROSTO desperta no espectador é o sentimento de angústia, já que o filme é narrado todo do ponto de vista do protagonista. Algumas vezes nem sequer vemos o seu rosto, mas uma câmera que o segue por trás. Ou uma câmera subjetiva, como na cena do pileque na festa, quando vemos os rostos dos reborns olhando para ele (ou para nós) ameaçadoramente. Outro momento de destaque e que faz a gente ter um gostinho do espírito da contracultura dos anos 60 está na cena em que Hudson vai com a nova namorada a uma festa de adoração ao deus Baco. Mas nada nos prepara para o impactante e perturbador final.

Agradecimentos especiais ao Renato, que foi quem me enviou o filme.

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